Brain Rot: o cérebro no limite

Você sente que a sua atenção está piorando? Que os seus pensamentos estão mais acelerados e o seu raciocínio mais lento? Tem sido difícil se concentrar em uma atividade por um tempo mais prolongado?

Brain rot, ou cérebro apodrecido, é uma expressão que foi muito utilizada ultimamente e tem o objetivo de descrever o que o excesso de estímulos digitais tem causado no seu cérebro.

Você pode estar sofrendo de brain rot se:

  • você sente que ler um livro se tornou mais difícil;
  • se concentrar em uma atividade por um tempo mais prolongado te gera ansiedade;
  • sente que a paciência ficou mais curta;
  • o sono ficou de pior qualidade;
  • ou se você sente um desconforto quando percebe que vai passar um período sem internet ou que vai ficar um tempo longe do celular.

O que está acontecendo no seu cérebro para você estar sentindo tudo isso?

O seu cérebro encontra prazer no aprendizado e encontra prazer quando ele é submetido a esforços que geram recompensa.

Quando a gente não tinha esse excesso de estímulos digitais, a gente encontrava mais prazer e recompensa em atividades que eram construtivas.

Hoje, com a exposição a esses estímulos digitais e a informações muito superficiais, pouco desafiadoras para o nosso cérebro, a gente tem uma ativação do sistema de recompensa, mesmo diante de esforço nenhum.

O nosso esforço para rolar a tela e para se manter engajado em redes sociais, por exemplo, é praticamente nulo.

É literalmente como se o nosso cérebro estivesse desligado.

E, ainda assim, a gente obtém a recompensa do prazer de estar exercendo aquela atividade.

Isso significa que, ao longo do tempo, você destreina o seu cérebro a entender que existe recompensa em atividades que exijam esforço.

E todas as atividades do nosso dia exigem algum nível de esforço, não somente a leitura de um livro.

A socialização, por exemplo, o ato de encontrar outras pessoas.

Ou o engajamento em atividades do trabalho, que não envolvam a exposição às telas.

Quando você expõe o seu cérebro a uma atividade que te entrega o prazer como recompensa e para isso não te exige nenhum esforço, você está destreinando habilidades cerebrais.

Habilidade vs. Capacidade

Se você nasceu saudável, o seu cérebro nasceu capaz. Ele é capaz de adquirir diversas habilidades ao longo da vida.

Só que para você adquirir qualquer habilidade, exige tempo e esforço.

Tempo é a moeda mais cara que a gente tem, porque a gente não consegue reaver o tempo que a gente perdeu.

Então, todo o tempo que você gasta utilizando a tecnologia de uma forma pouco produtiva, você está deixando de adquirir habilidades realmente produtivas.

Por isso que o termo que ficou mais conhecido ultimamente é cérebro apodrecido.

Imagine uma fruta em cima de uma mesa que você não usa para o consumo.

Com o tempo, ela vai perder a sua utilidade, porque ela vai apodrecer.

A mesma coisa acontece com o seu cérebro de forma simbólica.

Quando você não utiliza as suas capacidades para desenvolver habilidades, você perde esse potencial.

E é isso que o uso inadequado das redes sociais e dos estímulos digitais tem feito com o nosso cérebro.

O seu cérebro funciona como uma inteligência artificial que está o tempo todo mapeando ações que valem a pena.

Todas as ações que trazem uma recompensa, ele registra como ação que vale a pena e ele tende a repetir.

As redes sociais cobram um esforço mínimo para uma recompensa grande de prazer, ainda que não seja um prazer saudável.

E o seu cérebro registra isso como uma atividade a ser repetida.

Com o tempo, você vai substituindo as atividades que seriam realmente produtivas no seu dia por uma atividade que exige um mínimo de esforço com um máximo de recompensa.

E o que acontece diante disso é uma desregulação de diversos circuitos cerebrais que envolvem a atenção, a capacidade de tomada de decisão e a regulação emocional.

É muito comum a gente ouvir falar do neurotransmissor dopamina, mas não acontece somente uma desregulação da dopamina.

Na verdade, acontece uma desregulação de diversos circuitos cerebrais que também usam a dopamina para o seu funcionamento.

Diante de tudo isso, a boa notícia é que o seu cérebro pode mudar.

A gente pode usar a neuroplasticidade a nosso favor através dos estímulos adequados.

Então, da mesma forma que o uso incorreto da tecnologia pode danificar o nosso cérebro, o uso correto da tecnologia pode ser um potencializador das nossas habilidades.

E como a gente faz isso?

A gente pode reverter esse cenário através de quatro passos práticos:

  • 1º passo: regulação dopaminérgica intencional
  • 2º passo: treino de foco profundo
  • 3º passo: ajuste do ritmo circadiano
  • 4º passo: reintrodução de conteúdos de qualidade

A partir de agora, a gente vai falar detalhadamente sobre cada um deles.

1º Passo: Regulação dopaminérgica intencional

De forma prática, como fazer a regulação dopaminérgica intencional?

A primeira medida é reduzir a exposição aos estímulos digitais.

E como a gente faz isso?

Precisamos estabelecer horários no dia para usar o celular e outras tecnologias, com intencionalidade.

Todas as vezes que você pegar o celular, não o faça de forma automática.

Tenha uma intenção clara para o uso daquela ferramenta — seja para descanso, entretenimento ou trabalho.

Independentemente da intenção, evite essa exposição nos horários nobres para o seu cérebro, principalmente ao acordar e antes de dormir.

A exposição à luminosidade da tela também é muito ruim para a saúde do nosso cérebro, e a gente vai falar disso um pouquinho mais para frente.

Para a regulação dopaminérgica intencional, crie momentos de tédio intencional no seu dia.

Além disso, cultive hábitos que entreguem uma medida de esforço mais equilibrada com o prazer que você recebe.

Isso pode envolver atividades como:

  • Leitura profunda (mesmo que por um tempo curto)
  • Meditação
  • Prática regular de atividade física
  • Exercícios de atividades criativas, mantendo-se engajado e longe do celular por um tempo prolongado

2º Passo: Treino de foco profundo

O segundo ponto envolve o treino do foco profundo.

Podemos começar usando o método Pomodoro:

  • 25 minutos de atividade concentrada
  • 5 a 10 minutos de descanso entre os blocos

Outra técnica interessante é a técnica Trataka, em que você usa um ponto ou círculo para manter o olhar focado antes de iniciar uma tarefa que exige maior concentração.

Vou deixar no vídeo abaixo uma demonstração.

Esse círculo com um ponto central pode ser colocado a 1 metro de distância da sua visão.

Você deve manter os olhos na mesma altura do ponto e se concentrar nele por alguns minutos antes de começar a atividade que demanda mais atenção.

3º Passo: Ajuste do ritmo circadiano

O terceiro ponto (e um dos mais importantes) é o ajuste do ciclo circadiano.

Sem um sono reparador, você não consegue sair do ciclo de hiperestimulação causado pelos estímulos digitais.

Algumas medidas essenciais:

  • Expor-se ao sol da manhã sem óculos escuros nas primeiras horas do dia (isso regula neurotransmissores importantes para o sono noturno).
  • Ter um horário fixo para dormir e acordar, mantendo a regularidade.
  • Evitar telas antes de dormir.

Um sono de qualidade permite o reequilíbrio das capacidades cerebrais e a construção de habilidades.

4º Passo: Reintrodução de conteúdos de qualidade

O último passo é a reintrodução consciente de conteúdos digitais, exercendo o livre-arbítrio para fazer escolhas mais sábias.

Sabendo que o brain rot (cérebro apodrecido) é causado pelo consumo de conteúdos superficiais e pouco desafiadores, podemos usar a tecnologia a nosso favor, expondo o cérebro a materiais que gerem reflexão e aprendizado real.

A escolha dos conteúdos nessa fase é crucial para evitar um retorno ao ciclo de hiperestimulação vazia.

É aqui que fica claro o quanto é importante usar a tecnologia com intencionalidade.

A intencionalidade diferencia o uso passivo do uso ativo, transformando os estímulos digitais em ferramentas para desenvolver habilidades.

Seu cérebro precisa de um ambiente melhor para funcionar bem

O seu cérebro não está apodrecendo — ele só precisa de um ambiente melhor para funcionar bem.

Trate o seu cérebro como um solo fértil:

  • O solo importa (seus hábitos determinam sua qualidade).
  • As sementes também (os conteúdos que você consome florescerão em habilidades).
  • Escolha seus hábitos com intenção. Escolha seus conteúdos com sabedoria.

Neste vídeo, explico exatamente como o Brain Rot afeta seu cérebro e compartilho 4 estratégias práticas para recuperar seu foco, reduzir a ansiedade gerada pelo excesso de estímulos digitais e restaurar sua clareza mental. Se você sente que sua mente está acelerada e sobrecarregada, este vídeo é para você! “Você é a consciência que observa e experimenta o mundo através do seu cérebro.” Marília Graner

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Continue a leitura: Você usa seu celular ou ele usa você? 3 erros que estão sabotando seu cérebro

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Dra. Marília Graner
Dra. Marília Graner

Sou neurologista, especialista em neurociência comportamental e cognitiva, com foco em como nosso cérebro molda pensamentos, emoções e comportamentos. Meu objetivo é traduzir a ciência do cérebro de forma prática e acessível, ajudando pessoas a desenvolverem mais autoconfiança, equilíbrio emocional e clareza mental. Além disso, compartilho conhecimento sobre saúde mental, hábitos e produtividade, sempre integrando a ciência à vida cotidiana.

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