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O que você come hoje pode definir quantas doenças terá no futuro, revela estudo com idosos
Dieta e multimorbidade – Envelhecer com saúde é o desejo de milhões de pessoas que, ao longo da vida, acumulam experiências, afetos, conquistas (mas muitas vezes também acumulam doenças).
Com o passar dos anos, é comum surgirem problemas como hipertensão, diabetes, colesterol alto, dores crônicas ou alterações no humor e na memória. Em muitos casos, essas condições se somam, tornando o dia a dia mais difícil e o cuidado com a saúde mais complexo.
Mas e se fosse possível retardar esse acúmulo de doenças apenas ajustando a alimentação? Essa é uma pergunta que ganha cada vez mais relevância à medida que entendemos melhor a ligação entre o que comemos e o número de enfermidades que carregamos com o tempo.
A resposta pode estar em como determinados padrões alimentares influenciam o processo de adoecer ou de permanecer saudável.
Hoje, no SaúdeLAB, você vai entender o que é multimorbidade, por que ela se tornou uma preocupação crescente na área da saúde e, principalmente, como a dieta pode ser uma aliada poderosa para envelhecer com mais qualidade de vida.
O que é dieta e multimorbidade e por que essa relação merece sua atenção
A palavra multimorbidade é usada quando uma pessoa convive com duas ou mais doenças crônicas ao mesmo tempo.
E isso é mais comum do que parece, especialmente em pessoas com mais de 60 anos. Em vez de lidar com uma condição isolada, como a hipertensão, o indivíduo também pode ter diabetes, osteoartrite, depressão ou problemas cardíacos (tudo junto), o que torna o cuidado diário muito mais desafiador.
Diante desse cenário, a ciência vem buscando formas de desacelerar esse processo. E uma das descobertas mais promissoras é a influência direta da alimentação na velocidade com que essas doenças se acumulam.
Ou seja, a dieta pode tanto ajudar a proteger o corpo quanto acelerar o surgimento de novos problemas de saúde, dependendo das escolhas alimentares feitas ao longo dos anos.
Morbidade vem do latim morbidus, que significa “doente”. O termo se refere à presença de doenças ou condições de saúde que afetam a qualidade de vida, mas não envolvem necessariamente risco de morte. Diferente de mortalidade, morbidade está ligada ao adoecimento, como no caso de intolerâncias e inflamações crônicas.
Neste contexto, entender o papel da dieta e multimorbidade não é apenas relevante, é essencial para quem deseja envelhecer com mais autonomia, bem-estar e menos dependência de medicamentos ou cuidados médicos constantes.
Como a alimentação pode influenciar no acúmulo de doenças ao longo da vida
Quando pensamos em alimentação saudável, geralmente a associamos à prevenção de doenças. Mas o que muitos ainda não sabem é que uma dieta equilibrada não apenas previne, como pode retardar o avanço e o acúmulo de doenças crônicas, especialmente na fase mais madura da vida.
Foi exatamente isso que demonstrou um estudo realizado com mais de 2.400 idosos na Suécia, acompanhados ao longo de 15 anos publicado recentemente na Nature Aging.
A pesquisa analisou como diferentes padrões alimentares estavam relacionados à velocidade com que as doenças crônicas se acumulavam com o passar do tempo.
O foco não foi em doenças isoladas, mas no número total de enfermidades que surgiram em cada pessoa (um reflexo real da multimorbidade).
Os pesquisadores avaliaram quatro tipos de dieta:
- MIND, voltada à proteção do cérebro, combinando elementos da dieta mediterrânea e da dieta DASH.
- AHEI, um índice que mede a qualidade geral da alimentação com base em evidências de prevenção de doenças.
- AMED, uma versão adaptada da tradicional dieta mediterrânea.
- EDII, que mede o potencial inflamatório da alimentação, ou seja, o quanto certos alimentos favorecem a inflamação no corpo.
O que o estudo revelou
Os resultados foram claros: quanto maior a aderência a padrões alimentares saudáveis, mais lenta era a progressão das doenças crônicas ao longo dos anos, reforçando a ligação entre dieta e multimorbidade.
Participantes que seguiram as dietas MIND, AHEI ou AMED com maior rigor acumularam, em média, duas doenças crônicas a menos do que aqueles com alimentação de pior qualidade.
Essas dietas mostraram impacto principalmente na redução de doenças cardiovasculares e neuropsiquiátricas, como depressão, demência e AVC. Ou seja, o cérebro e o coração foram os mais beneficiados com uma alimentação saudável.
Em contrapartida, aqueles com maior pontuação no EDII (o índice que representa uma dieta com alimentos pró-inflamatórios como ultraprocessados, carnes processadas, refrigerantes e gorduras saturadas) tiveram um acúmulo mais rápido de doenças ao longo dos anos.
Embora o estudo não tenha encontrado associação significativa entre dieta e doenças musculoesqueléticas, como artrose e osteoporose, os autores destacam que os efeitos da alimentação são mais visíveis em alguns sistemas do corpo do que em outros, o que reforça a complexidade do tema.
Dieta e inflamação: uma conexão importante na saúde do idoso
Um dos caminhos pelos quais a dieta influencia a multimorbidade é a inflamação crônica de baixo grau, comum no envelhecimento. Conhecida como “inflammaging”, essa inflamação persistente está ligada a diversas doenças que se manifestam na terceira idade (como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e neurodegenerativas).
Alimentos ricos em fibras, antioxidantes, gorduras boas e compostos bioativos (presentes em frutas, vegetais, azeite, peixes e oleaginosas) ajudam a reduzir a inflamação no corpo.
Por outro lado, uma alimentação baseada em açúcares refinados, embutidos, frituras e industrializados pode aumentar a produção de substâncias inflamatórias e acelerar o desgaste do organismo.
O estudo sueco reforça essa teoria ao mostrar que dietas com maior potencial inflamatório estão associadas a trajetórias mais rápidas de acúmulo de doenças, especialmente as cardiovasculares.
A importância do início precoce e da consistência
Outro ponto importante observado na pesquisa é que os efeitos positivos das dietas saudáveis foram mais evidentes entre os participantes que iniciaram com menos doenças crônicas.
Ou seja, começar cedo e manter bons hábitos alimentares pode ser decisivo para um envelhecimento mais saudável.
No entanto, mesmo entre aqueles que já tinham multimorbidade no início do estudo, seguir um padrão alimentar saudável foi capaz de trazer benefícios, ainda que mais modestos.
Isso mostra que nunca é tarde para cuidar da alimentação, e que mudanças positivas podem fazer diferença em qualquer fase da vida. Afinal, a relação entre dieta e multimorbidade está bem clara.
Homens e mulheres envelhecem diferente?
A pesquisa também explorou possíveis diferenças entre os sexos e as faixas etárias.
Mulheres apresentaram maior proteção cardiovascular com a dieta saudável, e idosos com mais de 78 anos se beneficiaram especialmente na prevenção de doenças neuropsiquiátricas. No entanto, essas diferenças não se mantiveram estatisticamente significativas após ajustes rigorosos.
Ainda assim, os dados sugerem que fatores como sexo e idade podem influenciar a resposta do organismo à alimentação, algo que futuros estudos devem continuar investigando.
O que este estudo nos ensina sobre envelhecer bem
A principal lição é clara: a alimentação tem um papel direto na forma como adoecemos ao longo da vida. Não se trata apenas de evitar uma ou outra doença, mas de reduzir o peso total das enfermidades que podem comprometer a qualidade de vida.
Adotar um padrão alimentar equilibrado, baseado em alimentos naturais e anti-inflamatórios, é uma escolha que contribui para um envelhecimento mais ativo, lúcido e independente.
É uma estratégia acessível, prática e que está ao alcance da maioria das pessoas. Assim, a dieta e multimorbidade estão intimamente ligadas.
A alimentação é uma ferramenta poderosa de cuidado
A relação entre dieta e multimorbidade vai além da prevenção: ela impacta diretamente o ritmo com que nosso corpo acumula doenças ao longo da vida. Quanto mais cedo adotamos hábitos saudáveis, maiores são os benefícios, mas nunca é tarde para começar.
Envelhecer com saúde depende de muitos fatores, mas a alimentação é um dos poucos que está, todos os dias, nas nossas mãos. Escolher bem o que vai ao prato é escolher melhor o futuro que desejamos para nosso corpo e nossa mente.
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