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Inflammaging: a inflamação do envelhecimento pode ser um fenômeno do estilo de vida
Com o passar dos anos, nosso corpo naturalmente muda. Mas o que muitos não percebem é que, silenciosamente, pode estar ocorrendo um processo inflamatório crônico, leve e contínuo — que não dói, não dá sinais visíveis de imediato, mas que pode estar por trás do surgimento de diversas doenças.
Esse fenômeno tem um nome: inflammaging.
Durante muito tempo, acreditou-se que essa inflamação discreta fazia parte do envelhecimento “normal”. Porém, cada vez mais especialistas têm percebido que esse não é um destino inevitável.
Há pessoas ao redor do mundo que envelhecem sem sofrer com os mesmos males que conhecemos nas grandes cidades: pressão alta, diabetes, problemas cardiovasculares e até Alzheimer parecem quase inexistentes em certas comunidades.
O que essas pessoas fazem de diferente? A resposta pode estar no modo como vivem, e não apenas na genética ou no acesso à saúde.
Hoje, aqui no SaúdeLAB, vamos explorar o que é o inflammaging, por que ele pode ser mais comum em ambientes urbanos e como o seu estilo de vida pode influenciar diretamente a forma como você envelhece.
E, o mais importante: como prevenir esse processo e proteger sua saúde a longo prazo.
O que é Inflammaging?
O termo “inflammaging” vem da junção das palavras em inglês inflammation (inflamação) e aging (envelhecimento). Ele descreve uma inflamação persistente, leve, mas contínua, que tende a se intensificar com a idade.
Esse tipo de inflamação, silenciosa e muitas vezes assintomática, está associado a diversas doenças crônicas como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, osteoporose, Alzheimer e alguns tipos de câncer.
Por muito tempo, acreditou-se que essa inflamação fosse parte inevitável do envelhecimento humano. No entanto, esse novo estudo traz evidências de que a história pode ser mais complexa — e que há fatores ambientais e culturais que podem estar diretamente envolvidos.
O estudo que questionou tudo
Um estudo recente, liderado por pesquisadores da Columbia University Mailman School of Public Health e publicado na revista Nature Aging, levanta uma perspectiva nova.
Os pesquisadores compararam quatro populações distintas:
- Italianos e singapurianos, vivendo em sociedades altamente urbanizadas e industrializadas.
- Tsimane (Amazônia Boliviana) e Orang Asli (Malásia peninsular), indígenas que mantêm modos de vida tradicionais, com dieta natural e contato frequente com agentes infecciosos do ambiente.
Foram analisados 19 marcadores imunológicos (citocinas) para avaliar os níveis de inflamação e como eles variavam com a idade.
Os resultados mostraram que, nos países industrializados, os marcadores de inflamação aumentavam com a idade — o clássico padrão do inflammaging. Já entre os Tsimane e os Orang Asli, isso não acontecia.
Embora apresentassem níveis elevados de inflamação, causados principalmente por infecções parasitárias e exposição ambiental, esses níveis se mantinham estáveis ao longo da vida e não resultavam nas doenças crônicas típicas das sociedades ocidentais.
O que isso significa?
Esses achados indicam que o inflammaging não é um destino biológico inevitável, mas sim um possível reflexo do modo como vivemos.
Nas populações indígenas, a inflamação está mais relacionada a infecções agudas do ambiente do que a um processo degenerativo ligado à idade.
Além disso, doenças como diabetes, Alzheimer e doenças cardíacas são raras ou praticamente inexistentes nessas comunidades.
Estilo de vida e inflamação: qual é a conexão?
As diferenças entre as populações estudadas vão além do acesso à saúde. Envolvem aspectos como:
1. Dieta
- Indígenas: alimentação rica em fibras, frutas, vegetais e proteínas naturais, com baixo consumo de gordura saturada e alimentos processados.
- Industrializados: consumo frequente de ultraprocessados, açúcar refinado, sal em excesso e gorduras inflamatórias.
Esses hábitos alimentares impactam diretamente o intestino e o sistema imune, influenciando os níveis de inflamação.
2. Nível de atividade física
Os Tsimane, por exemplo, são extremamente ativos fisicamente ao longo da vida, realizando tarefas diárias como caça, pesca, plantio e caminhada.
Já nas sociedades modernas, o sedentarismo é uma das principais características da rotina adulta e idosa.
A falta de movimento está diretamente associada ao acúmulo de gordura visceral, que é um dos gatilhos da inflamação crônica.
3. Exposição a patógenos
A exposição constante a agentes infecciosos nos ambientes naturais provoca uma inflamação do tipo aguda, mas que não gera o mesmo padrão inflamatório degenerativo.
No ambiente urbano, com menos exposição a esses microrganismos, o sistema imunológico pode se desregular, levando a reações inflamatórias sem motivo aparente — ou seja, crônicas.
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Inflammaging: dá para prevenir?
A boa notícia é que, se o inflammaging está relacionado ao estilo de vida, ele também pode ser modificável. Isso significa que ações simples do dia a dia podem ajudar a prevenir ou retardar esse processo. Algumas estratégias eficazes incluem:
1. Alimentação anti-inflamatória
Inclua mais alimentos naturais e antioxidantes na rotina:
- Frutas vermelhas, cúrcuma, gengibre, peixes ricos em ômega-3, azeite de oliva extra virgem, castanhas e vegetais folhosos.
Evite:
- Açúcares refinados, alimentos ultraprocessados, embutidos e frituras.
2. Sono de qualidade
O sono regula funções imunes e hormonais. Dormir mal de forma crônica pode aumentar os níveis de cortisol e marcadores inflamatórios.
3. Atividade física regular
Exercícios aeróbicos e de força ajudam a reduzir a gordura corporal, melhoram a função imunológica e reduzem o estresse oxidativo.
4. Redução do estresse
Estresse crônico ativa o eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal) e mantém a inflamação ativa. Práticas como meditação, yoga, contato com a natureza e terapia podem ajudar.
5. Manutenção da saúde intestinal
A saúde do intestino está diretamente ligada à imunidade. Probióticos, prebióticos e uma dieta rica em fibras ajudam a manter a integridade da microbiota e a reduzir processos inflamatórios.
Contexto importa: um novo olhar para o envelhecimento
O estudo reforça que não existe um modelo único de envelhecimento. O que funciona para uma população pode não se aplicar à outra. Por isso, é fundamental considerar o contexto ambiental, social e biológico ao avaliar marcadores de saúde.
A conclusão mais importante é que a inflamação não é sempre “ruim”, e nem sempre ela leva a doenças. O tipo de inflamação, sua origem e o ambiente onde ocorre fazem toda a diferença.
O conceito de inflammaging está sendo revisto. Embora a inflamação de baixo grau esteja ligada ao envelhecimento em sociedades industrializadas, ela não é uma regra universal.
Estilos de vida mais naturais, com alimentação saudável, atividade física constante e contato com a natureza parecem proteger contra essa inflamação silenciosa que tanto prejudica a saúde.
Para quem busca envelhecer com qualidade, longevidade e saúde, é essencial repensar hábitos e entender que muitas das condições que hoje associamos à idade são, na verdade, consequência de um descompasso entre nosso corpo e o ambiente moderno.
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