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O que é fotofobia e por que ela pode ser o verdadeiro motivo dos óculos escuros de Ozzy
O que é fotofobia? Na última semana (dia 22), o mundo da música se despediu de um dos maiores ícones do rock: Ozzy Osbourne. Ele faleceu aos 76 anos e deixou uma legião de fãs, entre os quais me incluo com orgulho.
Tive o privilégio de assistir a um show seu, cantei seus clássicos a plenos pulmões e acompanhei cada fase da sua carreira com admiração.
Mas, além de toda a genialidade artística, algo sempre me chamou atenção como oftalmologista: seus inseparáveis óculos escuros, usados inclusive em ambientes fechados ou durante a noite.
O visual marcante de Ozzy sempre fez parte da sua identidade, mas existe algo mais por trás dos óculos que pouca gente percebe: a fotofobia.
Em uma entrevista de 2020, ele revelou ter sido diagnosticado com a doença de Parkinson, e esse detalhe ajuda a entender por que a sensibilidade à luz pode ter feito parte da sua rotina.
Quero explicar aqui, portanto, o que é fotofobia, por que ela pode acontecer e como condições neurológicas, como o Parkinson, e problemas oculares estão relacionados a essa hipersensibilidade à luz.
E, claro, como nós, profissionais da saúde ocular, podemos ajudar quem sofre com esse incômodo tão pouco falado.
O que é fotofobia e quais os sintomas mais comuns?
Apesar do nome parecer algo grave ou misterioso, fotofobia nada mais é do que uma sensibilidade anormal à luz.
A palavra vem do grego: “photo” (luz) + “phobos” (medo ou aversão).
Não se trata de um medo literal da luz, mas sim de um desconforto que vai desde um incômodo leve até dor intensa nos olhos ao se expor a ambientes iluminados, mesmo que essa luz não seja forte.
Pessoas com fotofobia muitas vezes precisam usar óculos escuros mesmo em dias nublados, dentro de casa ou à noite, exatamente como fazia Ozzy.
A sensibilidade pode se manifestar em situações cotidianas, como ao olhar para a tela do celular, acender a luz de um cômodo ou sair ao sol.
Principais causas da fotofobia
É importante entender que a fotofobia é um sintoma, não uma doença.
Ela pode estar ligada a diferentes condições, tanto oftalmológicas quanto neurológicas. Abaixo, listo as causas mais frequentes:
- Doenças oculares: inflamações como uveítes, ceratites (infecção na córnea), conjuntivites severas e olho seco intenso são causas comuns. Nessas situações, a estrutura ocular está inflamada ou mais sensível, o que intensifica o desconforto causado pela luz.
- Problemas neurológicos: enxaqueca, meningite, traumatismos cranianos e a própria doença de Parkinson estão entre as condições que podem provocar fotofobia. Isso ocorre porque há uma conexão direta entre os nervos ópticos e o cérebro (qualquer alteração nesse sistema pode afetar a forma como a luz é percebida).
- Uso de medicamentos: alguns remédios, como antidepressivos, antibióticos e fármacos utilizados no tratamento do Parkinson, podem tornar os olhos mais sensíveis à luz.
- Albinismo ou olhos muito claros: pessoas com olhos claros ou com albinismo têm menos pigmento na íris, o que reduz a proteção natural contra a luz e aumenta a fotossensibilidade.
Ozzy Osbourne e a relação com a sensibilidade à luz
Ozzy Osbourne revelou seu diagnóstico de Parkinson há alguns anos, e é bastante provável que a fotofobia tenha sido um dos sintomas enfrentados por ele.
A doença de Parkinson afeta o sistema nervoso central, provocando alterações motoras, cognitivas e sensoriais. Isso inclui, entre outros sintomas, uma sensibilidade aumentada à luz, que pode causar dor ocular, lacrimejamento e até mesmo dificuldade de manter os olhos abertos em ambientes muito iluminados.
Para lidar com isso, muitos pacientes (assim como Ozzy) recorrem aos óculos escuros como forma de aliviar o desconforto.
E, embora muita gente associe esse hábito ao estilo pessoal, existe um componente clínico importante por trás dele.
Como saber se você tem fotofobia?
Se você sente dor, ardência ou incômodo nos olhos ao entrar em lugares claros, se evita ambientes iluminados ou se precisa constantemente de óculos escuros mesmo em locais fechados, vale investigar.
O primeiro passo é marcar uma consulta com um oftalmologista.
O exame oftalmológico completo permite avaliar se há alguma inflamação, infecção, lesão ou condição mais complexa por trás da sensibilidade à luz.
Caso nenhuma alteração ocular seja identificada, pode ser necessário investigar causas neurológicas ou sistêmicas, com o apoio de outros especialistas.
Existe tratamento para fotofobia?
Sim, há tratamento para fotofobia, e ele depende diretamente da causa identificada. Veja algumas abordagens comuns:
- Colírios lubrificantes ou anti-inflamatórios, quando a origem é ocular;
- Tratamento da condição de base, como controle da enxaqueca ou do Parkinson;
- Óculos com lentes específicas, como filtros de luz azul ou lentes fotossensíveis;
- Adaptação do ambiente, com uso de iluminação mais amena e redução de exposições excessivas.
O mais importante é não normalizar o incômodo.
Muitas pessoas convivem com a fotofobia por anos, achando que é “frescura” ou que não tem solução. Mas há, sim, maneiras eficazes de melhorar a qualidade de vida de quem convive com essa sensibilidade.
Um legado que vai além do palco
Ozzy Osbourne nos deixa um legado imortal no mundo da música, mas também um lembrete silencioso de como sintomas aparentemente simples (como o uso frequente de óculos escuros) podem esconder condições complexas.
Entender o que é fotofobia e como ela se manifesta é fundamental para oferecer acolhimento, diagnóstico e tratamento a quem sofre com esse sintoma.
Como médico e fã, é marcante perceber que o estilo inconfundível de Ozzy também refletia uma necessidade real. Os óculos escuros não eram apenas um símbolo, eles também protegiam, silenciosamente, sua saúde ocular.
Um lembrete de que até mesmo as maiores estrelas precisam proteger seus olhos, e que todos nós devemos fazer o mesmo, quando nosso corpo nos alerta que algo não vai bem.
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Eu sou Dr. Marco Antonio Félix Filho (CRM 52313 RQE 52872), oftalmologista especialista em glaucoma – @selo_visao