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Parto prematuro: como as emoções da gestante influenciam o bebê
Durante períodos de estresse, ansiedade ou depressão a gestante pode apresentar níveis maiores do hormônio do estresse (cortisol). Apesar de a placenta atuar como uma barreira, inativando a maior parte desse hormônio, concentrações muito altas ou uma função placentária comprometida permitem que parte dele atravesse e alcance o feto.
Essa exposição fetal aumentada ao cortisol tem sido associada, em alguns estudos, a alterações no crescimento e no desenvolvimento do bebê e a um risco maior de parto prematuro, especialmente quando o estresse é intenso ou prolongado.
Por isso é importante identificar e tratar o sofrimento psíquico durante a gestação.
Parto prematuro: o que é e por que importa
Emoção e corpo não se separam.
O cortisol elevado não é “apenas nervosismo”, é uma resposta biológica que altera o sono, o apetite e a imunidade.
Na gestação, ele pode ultrapassar parcialmente a barreira da placenta e impactar diretamente o bebê.
Alguns fatores aumentam o risco de parto prematuro:
- Início tardio ou falta de acompanhamento pré-natal;
- Idade materna muito baixa ou acima de 35 anos;
- Uso de tabaco, álcool ou outras substâncias;
- Violência doméstica, vulnerabilidade social e baixa escolaridade;
- Histórico de perdas ou partos prematuros;
- Agendamento de cesáreas eletivas antes do tempo adequado.
A psicologia perinatal atua justamente nesse ponto, na prevenção e no acolhimento.
O pré-natal psicológico ajuda a identificar riscos emocionais e cria planos de cuidado individualizados para que informação e acolhimento também salvem vidas.
O luto do bebê idealizado
Quando o parto acontece antes, nasce também um luto, o do bebê idealizado.
O quartinho pronto, o banho em casa, a amamentação no tempo sonhado, tudo isso dá lugar à incerteza e à espera.
É um luto simbólico, com negação, raiva, tristeza e, finalmente, aceitação.
Validar esse luto é parte essencial do tratamento.
Frases como “logo passa” não ajudam.
Melhor dizer: “É difícil, e você não está sozinha. O que podemos fazer hoje para que se sinta mais amparada?”
O método canguru
O método canguru, baseado no contato pele a pele entre o bebê e os pais, não é apenas um gesto de afeto.
Ele reduz o tempo de internação, melhora o ganho de peso, fortalece a amamentação e diminui sintomas de depressão em mães e pais.
Pais não são coadjuvantes, são parte ativa do cuidado.
Voz, cheiro e toque são estímulos que o bebê reconhece e que nenhum equipamento substitui.
Por isso, o vínculo é uma das terapias mais poderosas que existem.
Orientações de cuidado
Se você está grávida:
- Cuide da sua saúde emocional. Se tristeza, culpa ou ansiedade interferem na rotina, procure um psicólogo perinatal.
- Peça orientação sobre os sinais de alerta do parto prematuro e tenha um plano de ação definido.
- Reduza o estresse diário: reorganize tarefas, delegue e peça ajuda sem culpa.
Se seu bebê está internado:
- Esteja presente sempre que possível. O toque, a voz e o olhar são formas de cuidado.
- Anote as informações médicas e acompanhe o progresso diariamente.
- Pergunte sobre o método canguru e pratique com orientação da equipe.
- Cuide também de você: descanse, alimente-se bem e mantenha uma rede de apoio organizada.
Após a alta:
- Busque estimulação precoce com base na idade corrigida.
- Mantenha as consultas e o acompanhamento do desenvolvimento.
- Organize uma rede de suporte prática: parceiro(a), família e amigos com papéis definidos.
Para profissionais e gestores de saúde
- Incluam triagem emocional no pré-natal de rotina.
- Garantam treinamento em método canguru nas maternidades.
- Usem comunicação empática com as famílias, sem alarmismo.
- Criem estruturas que permitam a presença dos pais e valorizem a licença-paternidade.
Cuidar da mãe é cuidar do bebê.
Proteger a saúde emocional durante a gestação e fortalecer o vínculo pele a pele transforma risco em potência.
É assim que ajudamos mais famílias a voltarem para casa com histórias de superação, não de cicatrizes silenciosas.
Leia também: Psicóloga explica: rede de apoio no pós-parto pode salvar ou adoecer a mãe
*Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Dedica-se à saúde mental materna desde sua formação inicial, sendo autora de centenas de trabalhos científicos voltados à redução dos altos índices de sofrimento emocional durante a gestação e o puerpério.



