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Saúde mental dos adolescentes: como o comportamento nas redes sociais pode revelar fragilidades
Estudo da Universidade de Cambridge revela como adolescentes com ansiedade e depressão usam redes sociais de forma diferente: mais tempo online, comparação social excessiva e sensibilidade a curtidas. Saiba identificar esses sinais e como apoiar jovens com fragilidades emocionais.
A relação entre redes sociais e saúde mental tem sido amplamente debatida, mas um novo estudo liderado pela Universidade de Cambridge traz dados concretos sobre como adolescentes com condições psicológicas diagnosticadas interagem de maneira diferente com essas plataformas.
A pesquisa, publicada na revista Nature Human Behaviour, revela que jovens com transtornos como ansiedade e depressão tendem a passar mais tempo online, sentem maior insatisfação com suas interações virtuais e são mais afetados por comparações sociais e feedbacks como curtidas e comentários.
Os resultados destacam a necessidade de atenção a certos comportamentos digitais que podem sinalizar vulnerabilidade emocional. Mas o que exatamente diferencia o uso das redes sociais entre adolescentes com e sem condições de saúde mental?
Tempo de uso e insatisfação com interações virtuais
Adolescentes com condições de saúde mental relataram passar, em média, 50 minutos a mais por dia nas redes sociais do que aqueles sem diagnóstico. Além disso, demonstraram maior insatisfação com o número de amigos online, mesmo quando suas redes eram semelhantes às de outros jovens.
Segundo Luisa Fassi, autora principal do estudo, a quantificação pública de amizades – como contagens de seguidores e curtidas – pode intensificar sentimentos de inadequação, especialmente em quem já enfrenta desafios emocionais.
Esse fenômeno é particularmente relevante na adolescência, fase em que as relações sociais desempenham um papel crucial na construção da identidade.
Comparação social e sensibilidade a feedback online
O estudo identificou que quase metade (48%) dos jovens com transtornos internalizantes, como ansiedade e depressão, tendem a se comparar frequentemente a outras pessoas nas redes sociais. Esse índice é duas vezes maior do que o observado entre adolescentes sem condições psicológicas (24%).
Outro dado significativo: 28% dos participantes com transtornos internalizantes relataram que curtidas e comentários afetam diretamente seu humor, contra apenas 13% no grupo sem diagnóstico.
Essa sensibilidade exacerbada a feedbacks virtuais sugere que as interações online podem ter um peso emocional maior para jovens que já enfrentam desafios psicológicos.
Dificuldade de autocontrole e comportamentos evasivos
Além dos padrões já mencionados, os pesquisadores observaram que adolescentes com ansiedade ou depressão têm mais dificuldade em gerenciar o tempo gasto nas plataformas. Muitos também admitiram evitar a expressão sincera de seus sentimentos online, possivelmente por medo de julgamento ou rejeição.
Esse comportamento pode criar um ciclo vicioso: o medo de não ser aceito leva à autocensura, que por sua vez limita oportunidades de apoio genuíno. Em contraste, jovens com transtornos externalizantes (como TDAH) não apresentaram diferenças significativas no uso das redes sociais, exceto pelo maior tempo de conexão.
Implicações práticas para pais e educadores
Os resultados do estudo não estabelecem uma relação de causa e efeito, mas destacam a importância de observar certos comportamentos digitais que podem sinalizar vulnerabilidade emocional. Entre eles:
- Uso excessivo de redes sociais, especialmente quando substitui interações presenciais ou atividades cotidianas.
- Frustração recorrente com métricas virtuais, como número de seguidores ou curtidas.
- Mudanças perceptíveis de humor após o uso prolongado das plataformas.
- Tendência a comparar-se excessivamente com a vida alheia online.
É fundamental abordar esses sinais com equilíbrio: nem todo comportamento é indicativo de um problema grave, mas padrões persistentes merecem atenção. Diálogos abertos, sem julgamentos, e o incentivo a atividades offline podem ajudar a criar um ambiente mais saudável.
A necessidade de mais pesquisas e apoio
Como destacado por Amy Orben, coautora do estudo, a pesquisa oferece insights valiosos para orientar intervenções precoces, mas ainda há muitas perguntas sem resposta.
A complexa relação entre redes sociais e saúde mental demanda investigações mais aprofundadas, especialmente com grupos sub-representados, como jovens com transtornos alimentares ou TDAH.
Enquanto a ciência avança, uma coisa é clara: observar e acolher os adolescentes em suas vivências digitais – sem alarmismos, mas com atenção genuína – pode ser um passo crucial para apoiar seu bem-estar emocional.
Este conteúdo foi baseado no estudo “Social media use in adolescents with and without mental health conditions“, publicado na Nature Human Behaviour. Para mais informações, consulte a pesquisa original.