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Você pode ter hipertensão arterial e não saber: médico revela sinais silenciosos
Em entrevista exclusiva, médico cardiologista esclarece dúvidas sobre hipertensão arterial e revela como prevenir complicações graves.
O médico cardiologista Ricardo Ferreira, doutor em Tecnologia e Intervenção em Cardiologia pela USP, falou com o SaúdeLab sobre um dos maiores vilões silenciosos da saúde: a hipertensão arterial.
O especialista explicou por que a pressão alta é tão perigosa, como identificá-la precocemente e o que realmente funciona na hora de controlá-la.Na conversa, ele esclarece dúvidas comuns, aponta os erros mais frequentes cometidos por pacientes e reforça o papel do estilo de vida no tratamento.
Também alertou para as consequências graves da doença não tratada (como AVC, infarto e insuficiência renal) e mostrou que, apesar de não ter cura na maioria dos casos, a hipertensão pode ser mantida sob controle com disciplina e informação.
SaúdeLab – O que é hipertensão arterial e por que ela é tão perigosa?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – A hipertensão é definida como a pressão elevada do sangue. Ela faz com que o coração precise trabalhar mais para conseguir bombear o sangue para o resto do corpo e irrigar, de forma satisfatória, os demais órgãos.
E ela pode ser pressão arterial sistólica elevada e/ou pressão arterial diastólica elevada. A sistólica está relacionada ao valor máximo, e a diastólica, ao valor mínimo.
É perigosa porque, teoricamente, é silenciosa.
Alguns pacientes relatam dores de cabeça e, nesses casos, acaba sendo algo positivo, pois permite que eles busquem a causa e descubram o problema.
Mas eu falo que é silenciosa porque os danos são silenciosos.
A pressão arterial elevada pode causar danos progressivos em órgãos nobres como coração, cérebro, rins, olhos e vasos sanguíneos.
E, assim, levar a doenças como AVC (acidente vascular cerebral, conhecido como derrame), infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, insuficiência arterial e formações ou rompimento de aneurismas nos vasos sanguíneos.
Por isso ela é tão perigosa.
SaúdeLab – É possível ter pressão alta sem sentir nada? Como a pessoa descobre se tem?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Sim, é possível. Muitas vezes, a descoberta da pressão alta ocorre quando é identificado o dano em um órgão nobre.
Quando há, por exemplo, uma insuficiência cardíaca, e vão buscar a causa dessa insuficiência. Ou uma disfunção renal sem outra causa aparente.
E, aqui, não falamos de uma pressão elevada em razão de um algum susto, uma briga, algo que causa alguma descarga de adrenalina pontual. É uma pressão elevada por semana, meses ou até anos.
É essa constância da pressão elevada que causa essas alterações.
Então, muitas vezes, o paciente só percebe quando tem danos irreversíveis nos órgãos.
Nesse ponto é muito difícil recuperar 100% a função do órgão. O que a gente consegue é evitar que o caso piore.
A recomendação é a consulta de rotina ao cardiologista, pelo menos, uma vez por ano.
No entanto, isso também dependerá dos fatores de risco e do histórico familiar do paciente, que determinarão, por exemplo, a idade ideal para iniciar as avaliações. A partir dos 30 anos, já recomendamos consultas anuais.
SaúdeLab – O que pode causar hipertensão arterial? Todo mundo está sujeito?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Sim, todo mundo está sujeito. 90% dos pacientes têm hipertensão primária, que é um problema relacionado a fatores que podem ser comportamentais, como o sedentarismo, obesidade, tabagismo e alcoolismo.
Outros fatores também influenciam, como idade avançada, hereditariedade e até mesmo a raça — pessoas negras têm maior predisposição ao aumento da pressão.
É importante ainda lembrar, que existe uma pequena parcela da população que tem a chamada hipertensão arterial secundária, ligada a algum outro problema de saúde.
Pode ser um tumor renal, um tumor da glândula suprarrenal, alterações neurológicas ou alterações da tireoide.
A secundária está muito mais ligada aos extremos de idade e à dificuldade de controle.
Por exemplo, paciente muito jovem, ou muito idoso que começou a ter hipertensão de repente. Ou aqueles que precisam de várias classes de medicamentos para controlar a pressão.Esses aspectos não são comuns, então, é importante investigar e individualizar o atendimento e o tratamento.
E, no caso da hipertensão secundária, o tratamento deve ser direcionado à causa do problema. Controlando a causa, você consegue controlar a pressão.
SaúdeLab – Quem tem pressão alta corre maior risco de AVC? Como uma coisa leva a outra?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Sem sombra de dúvidas o risco é maior. Como comentamos, a pressão elevada causa lesão em órgãos nobres, e o cérebro é um deles.
O AVC ocorre quando um vaso sanguíneo do cérebro é bloqueado, o chamado AVC isquêmico, ou quando há um rompimento de um vaso sanguíneo, o AVC hemorrágico.
Isso interrompe o fluxo de sangue para o tecido cerebral, podendo causar danos graves e sequelas importantes na fala, equilíbrio ou até impossibilidade de movimentos.
Muitos pacientes ficam acamados, dependendo de familiares ou profissionais da saúde para se locomover e fazer suas atividades diárias.
A pressão nos vasos sanguíneos pode causar rompimentos ou obstruções. E isso pode ocorrer em qualquer lugar do corpo. É mais danoso no cérebro, é claro, em razão da função que ele tem em nosso corpo.
Os riscos e consequências vão depender da região acometida e da rapidez de atendimento e tratamento.
SaúdeLab – Além do AVC, que outros problemas a hipertensão arterial pode causar?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Voltando aos órgãos nobres, a hipertensão pode causar lesões nos rins, tanto na artéria renal como no funcionamento do órgão, levando à insuficiência renal, que consiste na dificuldade em filtrar o sangue, o que pode resultar na necessidade de diálise.
Na parte cardiológica, a pressão alta descontrolada pode causar infarto, pela obstrução na artéria do coração, impedindo o fluxo de sangue ao músculo cardíaco.
Ou pode, a longo prazo, levar ao crescimento da musculatura do coração, o que diminui a capacidade de receber e de irrigar sangue aos demais órgãos, causando a insuficiência cardíaca.
As consequências são sintomas como cansaço, indisposição, falta de ar, inchaço nas pernas, até uma evolução do quadro que é o acúmulo de água nos pulmões.
Nos olhos, pode haver danos nos vasos sanguíneos da retina, comprometendo a visão de forma irreversível.
Outras são as alterações vasculares em artérias dos membros, causando doença arterial periférica, que prejudica muito a qualidade de vida do paciente.
SaúdeLab – Quais são os tratamentos mais comuns para controlar a pressão alta?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – A primeira medida é mudança do estilo de vida.
Vale lembrar que há vários tipos de fatores que influenciam na pressão arterial.
Alguns, infelizmente, a gente não consegue interferir, como raça, idade e sexo genético.
Mas há outros que a gente consegue modificar totalmente: o sedentarismo, o tabagismo, o estresse, a apneia do sono, que é um fator de risco super importante para a pressão arterial e que é possível modificar ou controlar, além da alimentação.
Há também o tratamento medicamentoso, obviamente. Mas é importante destacar que, mesmo com os medicamentos, a mudança de estilo de vida deve acontecer.
SaúdeLab – Mudar a alimentação ajuda mesmo? Que tipo de dieta é indicada?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Sem sombra de dúvidas. Mudar a alimentação ajuda e muito.
Primeiro, há um efeito direto. Ao diminuir a ingestão de sal, e consequentemente de sódio, há menos retenção de líquido e isso já ajuda muito no controle da pressão.
Eu costumo falar para os meus pacientes: Tire o sal da mesa! O sal utilizado no preparo dos alimentos já é mais do que o suficiente.
Além disso, aqueles caldos, temperos prontos e molhos prontos para salada, por exemplo, têm muito sódio. O ideal seria não consumir. Mas se consumido com moderação já é de grande ajuda.
A ingestão de alguns refrigerantes, que também têm bastante sódio, causam o mesmo efeito ruim, assim como os enlatados.
Outro ponto a considerar é que uma alimentação saudável aumenta a disposição para a prática de atividade física, o que é bastante positivo para o controle da pressão.
Atividade física diminui a obesidade, auxilia na perda de gordura abdominal, proporcionando vários benefícios, inclusive o controle da apneia do sono.
A mudança alimentar é a base de toda uma mudança de vida.
Para isso, a dieta deve ser rica em nutrientes e com pouco sódio, substituindo alimentos como frituras, refrigerantes e sucos industrializados por opções naturais e grelhados.
SaúdeLab – Quem tem casos de hipertensão arterial na família deve se preocupar mais cedo?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Sim, a hereditariedade é um dos fatores que não podemos alterar, mas temos a opção de sermos mais rigorosos no controle.
E isso deve começar cedo. Embora nunca seja tarde demais para uma mudança no estilo de vida, é muito mais fácil manter bons hábitos desde cedo do que provocar isso aos 40, 50 ou 60 anos.
É importante ressaltar que essa mudança no estilo de vida não deve ser apenas por um período, como parte do tratamento. Precisa ser definitiva.
Descobrir uma atividade física que lhe agrade mais, ou uma comida saudável que goste mais, ajuda muito nesse processo.
E, como sabemos, é muito mais fácil prevenir com hábitos saudáveis, do que tomar medidas, que certamente serão mais restritivas, para controlar um problema já instalado.
SaúdeLab – Pressão alta tem cura ou é para a vida toda?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Essa é uma questão interessante. O paciente diagnosticado com pressão arterial tem grandes possibilidades de precisar de medicamento durante a vida inteira.
Há pacientes que chegam no consultório informando que não têm pressão alta. E, quando questionados sobre os medicamentos utilizados, citam aqueles para controle de pressão.
Nesses casos, é importante compreender que eles são pacientes hipertensos, mas com a pressão controlada por causa dos medicamentos.
Então, quem consegue sair da condição de hipertenso? Normalmente são aqueles pacientes muito obesos, grau 2 ou 3 de obesidade, que emagrecem bastante, muitas vezes, com cirurgia bariátrica.
Esses pacientes, que chegam a perder até 50, 60 ou 70 quilos, se forem jovens e sem outros fatores de risco, podem deixar de tomar o medicamento.
Outra coisa importante é a hipertensão secundária, sobre a qual falamos antes.
A hipertensão causada por uma alteração na tireoide, por exemplo. Tratando a tireoide, melhora-se a pressão alta. Por isso é importante individualizar os casos. Mas, tratando de forma bem geral, a pressão alta não tem cura.
Ela é controlada. Por isso, o medicamento não pode ser tomado apenas quando a pressão está alta.
SaúdeLab – Qual é o maior erro que as pessoas cometem ao lidar com a pressão alta?
Médico cardiologista Ricardo Ferreira – Existem algumas crenças que precisam ser combatidas. Primeiro, colocar toda a responsabilidade do tratamento nos remédios.
Escuto muito no consultório que determinado medicamento não funciona. Mas a pessoa toma o remédio e continua sedentária, continua tabagista.
O tratamento da pressão alta, como já falamos, começa na mudança do estilo de vida.
O segundo erro não é tão comum, mas ainda existe. É tratar a pressão alta como uma dor de cabeça ou dor de estômago.
Ou seja, tomar remédio quando a pressão está alta e deixar de tomar quando ela melhora.
Uma vez diagnosticada a necessidade do remédio, o uso é contínuo.
O objetivo do remédio é evitar que a pressão aumente, não abaixar os índices quando estão elevados.
Obviamente, haverá momentos em que a pressão vai subir. Um dia com mais estresse, ou quando o paciente passa por algum susto. É natural, e esse é o funcionamento normal do organismo.
Mas se houver o diagnóstico de hipertensão, é preciso o controle contínuo.
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Dr. Ricardo Ferreira atende no Centro Cardiológico
Integram: @centrocardiologico.arritmia