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Psicóloga explica: rede de apoio no pós-parto pode salvar ou adoecer a mãe
"A verdade é simples. Uma boa rede de apoio alivia o peso e deixa a mãe mais inteira. Rede ruim pesa, desorganiza e adoece".
No pós‑parto, a vida muda de lugar. O corpo pede recuperação, o bebê demanda presença e a casa, que antes parecia dar conta de tudo, vira um campo de decisões novas.
Nessa fase, contar com uma rede de apoio não é luxo. É necessidade básica para que a mãe se recupere, fortaleça o vínculo com o bebê e preserve sua saúde mental.
Durante a gestação e, principalmente, nos primeiros meses após o nascimento, a mãe precisa de pessoas em quem confie.
Apoio emocional e ajuda prática no dia a dia funcionam como um escudo contra o esgotamento e reduzem o risco de problemas emocionais graves.
O acolhimento é formado por pessoas próximas: avós, irmãos, amigos, vizinhos, até mesmo profissionais de saúde.
Elas aliviam a carga física e emocional com tarefas concretas e com presença segura.
Não é rede quem opina sem ser convidado, entra sem avisar, corrige a mãe a cada gesto ou tenta impor o “jeito certo”.
Apoio que invalida e desorganiza é um desapoio. A mãe se sente observada, não amparada.
Rede de apoio: pai é pai, não ajudante
O pai não integra “rede”. Ele faz parte do núcleo central do cuidado e deve assumir, junto com a mãe, as mesmas responsabilidades nos cuidados com o bebê.
Não pode ser visto como alguém que apenas ajuda.
O pai troca fraldas, acalma, dá banho, organiza a casa, leva em consultas, participa de decisões.
Tratar o pai como “ajudante” reforça uma sobrecarga injusta sobre a mulher e sabota a própria rede de apoio.
Quando o casal define papéis de forma clara, o entorno entende o limite e respeita mais.
Quando apoio atrapalha
Nem todo apoio ajuda de verdade.
Palpites, críticas e invasões de privacidade podem deixar a mãe insegura e ansiosa.
Frases como “seu leite não sustenta” ou “você não sabe segurar o bebê” são exemplos de atitudes que minam a confiança materna e prejudicam a saúde emocional.
Limites protegem o vínculo
A primeira infância começa no colo.
Para esse vínculo florescer, a casa precisa de combinados simples: horário de visitas, tempo de permanência, nada de pegar o bebê adormecido sem pedir, nada de fotos sem consentimento, nada de palpites sobre amamentação.
Avós e familiares podem ser grandes aliados quando respeitam as escolhas da família e o plano de cuidados do casal.
Na prática, o que ajuda
- Comida na mesa. Refeições prontas, frutas lavadas, água por perto.
- Casa funcional. Lixo fora, louça lavada, roupa dobrada, farmácia básica organizada.
- Rotina protegida. Visitas curtas, silenciosas e em horários combinados.
- Mãe no centro. Pergunte sobre as dores, o sono, o banho, a posição para amamentar.
- Bebê em paz. Nada de disputa de colo, nada de despertar sem necessidade.
- Zero julgamento. Frases como “seu leite é fraco” ou “no meu tempo era assim” não cabem.
- Atenção aos sinais. Choro fácil, culpa constante, pânico, insônia, medo intenso: a rede encoraja a busca por ajuda profissional.
A verdade é simples. Uma boa rede de apoio alivia o peso e deixa a mãe mais inteira.
Rede ruim pesa, desorganiza e adoece.
A diferença está no respeito às decisões da família, na presença que acolhe sem invadir e na corresponsabilidade real do pai.
O pós‑parto pede cuidado.
Com limites claros, escuta sem julgamento e tarefas divididas, a casa respira. A mãe se sente segura, o bebê também. E a rede cumpre o seu papel: sustentar a vida que começa, sem apagar a mulher que existe. Porque cuidar de uma mãe é também cuidar do bebê.
*Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Dedica-se à saúde mental materna desde sua formação inicial, sendo autora de centenas de trabalhos científicos voltados à redução dos altos índices de sofrimento emocional durante a gestação e o puerpério.
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