Câncer de mama na gravidez — “Eu só conseguia pensar: será que vou ver meu filho crescer?”

"Receber um diagnóstico de câncer de mama na gravidez mexe profundamente com a feminilidade, a autoestima e o ideal de maternidade".

Já conversei com mulheres que receberam o diagnóstico de câncer de mama na gravidez, justamente no momento em que esperavam viver o auge da vida — a gestação ou o início da maternidade.

O que era um tempo de expectativa se transforma, de repente, em uma travessia marcada pelo medo, pelas dúvidas e por uma urgência em conciliar cuidado e sobrevivência.

Quando o câncer aparece nesse período, chamado de perinatal, ele muda tudo: corpo, os planos, o vínculo com o bebê e a maneira como a mulher se reconhece.

Certa vez, uma gestante me disse, ainda abalada: “Meu bebê nasceu, e no mesmo dia eu descobri que estava com câncer. Eu só conseguia pensar: será que vou ver meu filho crescer?”

Essa pergunta ecoa o medo de muitas mulheres, e sintetiza o impacto emocional de uma notícia que chega sem aviso.

Outubro Rosa: por que falar sobre câncer de mama na gravidez

O câncer de mama é o tipo de câncer que mais afeta mulheres no Brasil.

Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde, o país deve registrar cerca de 73,6 mil novos casos em 2025.

Em 2023, mais de 20 mil mulheres morreram em decorrência da doença, com maior concentração de óbitos nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

O pré-natal é um momento de atenção não só para o bebê, mas também para a saúde da mãe.

É ali que a mulher pode conversar sobre histórico familiar, aprender a fazer o autoexame e realizar avaliações das mamas.

Alterações como caroços, retrações, secreção ou dor persistente precisam de investigação.

Detectar cedo salva vidas, e, na gestação, esse cuidado deve ser redobrado, já que o corpo passa por muitas transformações e alguns sintomas podem ser confundidos com efeitos da gravidez.

O impacto emocional do diagnóstico

Receber um diagnóstico de câncer de mama na gravidez mexe profundamente com a feminilidade, a autoestima e o ideal de maternidade.

É um luto que se sobrepõe ao nascimento da vida.

Mesmo sem querer, muitas mulheres se perguntam se ainda serão boas mães, se conseguirão amamentar, se o bebê sentirá falta do contato no peito.

O tratamento pode exigir a suspensão da amamentação, e esse é um dos lutos mais silenciosos.

Há dor e frustração, mas também espaço para reconstruir o vínculo de outras formas.

O contato pele a pele, o olhar, o cheiro, o toque e a rotina de cuidados são pontes tão potentes quanto o leite.

Vínculo não depende apenas da amamentação, e sim da presença.

Rede de apoio e o câncer de mama na gravidez

Nenhuma mulher deveria atravessar o diagnóstico de câncer de mama sozinha.

A rede de apoio – parceiro, familiares, amigos e profissionais – precisa ser orientada para agir com empatia e praticidade.

Rede de apoio não é torcida, é organização.

Quem leva às consultas? Quem prepara as refeições? Quem segura o bebê durante o tratamento?

Essas pequenas ações formam um sistema de proteção que diminui a sobrecarga e preserva o vínculo mãe-bebê.

Também é importante lembrar que a família sofre junto.

O companheiro, por exemplo, pode se sentir inseguro, com medo do futuro ou sobrecarregado.

Ele também precisa de espaço de escuta e orientação. Quando todos são acolhidos, o cuidado se fortalece.

O que fazer diante de um diagnóstico

  • Observe seu corpo. Qualquer alteração persistente nas mamas merece atenção médica.
  • Converse com o profissional de saúde. O pré-natal é hora de tirar dúvidas sobre exames e riscos.
  • Procure apoio psicológico. O pré-natal psicológico ajuda a elaborar medos, culpas e a adaptar a maternidade real.
  •  Organize a rede de apoio. Liste quem pode ajudar em tarefas práticas e na presença emocional.
  • Fale com o bebê. Mesmo pequeno, ele compreende o tom da voz e a segurança do vínculo.
  • Valorize o autocuidado. Cuidar de si é parte do tratamento.

A maternidade e o câncer, quando se encontram, escancaram o que a psicologia perinatal ensina todos os dias: nenhuma mulher precisa escolher entre cuidar do bebê ou cuidar de si.

A cura também passa pelo afeto, pela rede e pela possibilidade de continuar se sentindo mãe, mesmo em meio ao tratamento.
O câncer não escolhe momento, mas o acolhimento certo pode transformar até o medo em cuidado.

Leia também: Prematuridade no Brasil supera a média; veja de que forma a nova lei ajuda mães e bebês

*Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Dedica-se à saúde mental materna desde sua formação inicial, sendo autora de centenas de trabalhos científicos voltados à redução dos altos índices de sofrimento emocional durante a gestação e o puerpério.

Compartilhe este conteúdo
Psic Rafaela Schiavo
Psic Rafaela Schiavo

Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Dedica-se à saúde mental materna desde sua formação inicial, sendo autora de centenas de trabalhos científicos voltados à redução dos altos índices de sofrimento emocional durante a gestação e o puerpério.

VIRE A CHAVE PARA EMAGRECER

INSCRIÇÕES GRATUITAS E VAGAS LIMITADAS