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Infertilidade: as novas regras que podem evitar diagnósticos equivocados
A infertilidade afeta milhões de pessoas, mas faltava um documento global que organizasse orientações claras sobre prevenção, diagnóstico e tratamento.
Agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou sua primeira diretriz oficial sobre o tema.
O material reúne evidências científicas e propõe caminhos mais eficazes e acessíveis para quem enfrenta essa jornada.
Para quem tenta engravidar, para quem deseja se preparar para o futuro ou apenas entender melhor o assunto, o guia da OMS se torna uma referência importante.
O que é infertilidade
Muita gente pensa que infertilidade significa incapacidade total de engravidar, mas a definição correta é outra.
A OMS explica que a infertilidade é uma doença do sistema reprodutivo, masculino ou feminino, marcada pela dificuldade de conseguir uma gestação após 12 meses de relações sexuais regulares sem proteção.
Isso significa que o quadro pode ser temporário e tratável, e não determina que a gravidez nunca acontecerá.
A condição é mais comum do que parece. Uma em cada seis pessoas em idade fértil já passou por isso em algum momento.
Mesmo assim, o tema ainda é cercado de estigma, especialmente para mulheres, frequentemente responsabilizadas mesmo quando o fator masculino está presente.
Por que a OMS lançou uma diretriz
Até hoje, cada país lidava com a infertilidade de forma muito diferente.
Em alguns, tratamentos são inacessíveis; em outros, faltam profissionais preparados.
Até mesmo onde a tecnologia é avançada, o apoio emocional costuma ser limitado.
A nova diretriz da OMS organiza recomendações que ajudam a:
- facilitar o acesso a cuidados;
- orientar exames realmente necessários;
- evitar procedimentos caros ou sem benefício;
- colocar a infertilidade dentro da agenda de saúde reprodutiva e direitos.
Informação e prevenção
A OMS recomenda que informações sobre fertilidade e fatores de risco sejam oferecidas de forma simples, acessível e de baixo custo, sempre que houver oportunidade — em escolas, postos de saúde ou atendimentos de rotina.
Pontos importantes destacados pela diretriz:
- Idade importa. A fertilidade cai com o tempo, especialmente para mulheres.
- Estilo de vida influencia. Tabagismo, álcool, sedentarismo e peso corporal afetam a saúde reprodutiva.
- Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são causa relevante de infertilidade quando não tratadas.
- Orientação precoce ajuda a pessoa a reconhecer riscos e buscar ajuda no momento certo.
Como investigar a infertilidade
A diretriz da OMS prioriza avaliações efetivas, econômicas e baseadas em evidências, evitando exames repetidos ou de baixa utilidade.
Para mulheres
- Ovulação: quando o ciclo é regular, o exame recomendado é a dosagem de progesterona na fase lútea (cerca de sete dias antes da menstruação). Se o resultado indicar ausência de ovulação, o teste deve ser repetido em outro ciclo.
- Hormônios: FSH, LH, TSH e prolactina são solicitados apenas quando há sinais clínicos específicos.
- Reserva ovariana: a idade é o principal marcador. Testes como AMH ou contagem de folículos podem complementar a avaliação, mas não devem ser pedidos rotineiramente.
- Trompas: quando há suspeita de obstrução, HSG ou histerossonografia são as primeiras opções.
Para homens
- Semen: o espermograma é o exame fundamental. Se algum parâmetro estiver alterado, deve ser repetido após 11 semanas. Caso esteja normal, não precisa ser repetido.
Infertilidade sem causa aparente
Esse diagnóstico só pode ser feito quando:
- o casal tentou engravidar por 12 meses;
- histórico e exame físico são normais;
- há confirmação de ovulação;
- as trompas são pérvias;
- o espermograma está dentro dos padrões da OMS.
Tratamentos recomendados pela OMS
A diretriz organiza a sequência de cuidados para evitar excessos, custos desnecessários e intervenções muito precoces.
Para mulheres
- Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): o medicamento mais indicado para estimular a ovulação é o letrozol. Se o uso não for permitido no país, a alternativa é clomifeno associado à metformina.
- Trompas: em mulheres com menos de 35 anos e lesões leves a moderadas, a cirurgia pode ser considerada antes da FIV. Quando o dano é grave ou a mulher tem a partir de 35 anos, a FIV oferece melhores chances.
- Hidrossalpinge: retirar ou ocluir a tuba antes da FIV melhora os resultados.
Para homens
- Varicocele: cirurgia ou tratamento radiológico são recomendados quando há alteração no espermograma e o casal tenta engravidar naturalmente.
- Antioxidantes: não há evidência suficiente para recomendar ou contraindicar suplementos.
Quando nada explica a dificuldade
Depois que todos os exames estão normais, a OMS recomenda uma sequência de cuidados para os casos de infertilidade sem causa aparente:
- Aguardar de forma monitorada por três a seis meses, já que muitos casais conseguem engravidar naturalmente nesse período.
- Tentar inseminação intrauterina com estimulação leve usando clomifeno ou letrozol.
- Partir para a Fertilização In Vitro (FIV) se a inseminação não der resultado.
A diretriz também reforça que a fertilização in vitro não deve ser combinada com a injeção intracitoplasmática de espermatozoide (um procedimento em que o espermatozoide é inserido diretamente no óvulo) quando não há uma justificativa clínica para isso.
Atenção à saúde emocional
A OMS reconhece que a infertilidade também tem impacto emocional. Por isso, recomenda que os serviços de saúde ofereçam apoio psicológico ou encaminhamento quando necessário.
A nova diretriz coloca o paciente no centro do cuidado, prioriza tratamentos efetivos, reduz custos e amplia o acesso a uma assistência mais justa e baseada em evidências.
Falar de infertilidade com clareza é também garantir autonomia, dignidade e direitos reprodutivos.
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