Nutricionista: Agrotóxicos e o risco de transtornos neurológicos em crianças

Pesquisas recentes têm levantado preocupações sobre a exposição a agrotóxicos e seu possível impacto no desenvolvimento neurológico infantil, especialmente no aumento do risco de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Entre os compostos sob maior escrutínio está o glifosato, cujo efeito sobre distúrbios neurológicos tem sido cada vez mais estudado, embora ainda haja controvérsias científicas sobre seus mecanismos.

Agrotóxicos e autismo: o que mostram as pesquisas

O estudo CHARGE (Childhood Autism Risks from Genetics and Environment) foi um dos primeiros a apontar uma possível associação entre exposição a pesticidas e TEA.

Ele observou que gestantes que viviam a até 1,25 km de áreas de aplicação de pesticidas organofosforados apresentavam um aumento de 60% no risco de ter filhos com autismo.

Evidências mais recentes reforçam esse alerta.

Um estudo publicado no BMJ analisou 2.961 indivíduos com diagnóstico de TEA e constatou que a exposição pré-natal ao glifosato esteve associada a um aumento de 16% no risco de autismo.

Nos casos de TEA acompanhados de deficiência intelectual, o risco foi ainda maior, chegando a 33%.

Essas associações, no entanto, não provam causalidade — mostram apenas que a exposição pode ser um fator de risco relevante, merecendo atenção e novas investigações.

Como os agrotóxicos podem afetar o cérebro em desenvolvimento

Pesquisadores levantam a hipótese de que a exposição ao glifosato interfira na microbiota intestinal, um componente fundamental da comunicação entre intestino e cérebro.

O herbicida poderia reduzir bactérias benéficas — sensíveis ao composto — e favorecer o crescimento de microrganismos resistentes, como os do gênero Clostridia.

O excesso dessas bactérias e de seus metabólitos pode alterar o metabolismo da dopamina e favorecer a produção de radicais livres, o que, em teoria, contribuiria para danos mitocondriais e alterações neuronais observadas em distúrbios do neurodesenvolvimento.

Uma meta-análise recente também indicou que a exposição materna a pesticidas organofosforados e piretróides se associa a maior risco de TEA, enquanto pesticidas organoclorados foram identificados como possíveis fatores de risco para TDAH na prole.

Agrotóxicos e prevenção: por que reduzir a exposição é essencial

Diante dessas evidências, a saúde pública e a medicina preventiva reforçam a importância de minimizar a exposição pré-natal e infantil a agrotóxicos, especialmente nas regiões agrícolas.

As crianças são mais vulneráveis por terem menor massa corporal e um sistema nervoso ainda em formação, o que aumenta a absorção e reduz a capacidade de metabolizar essas substâncias.

Alimentação e suporte nutricional no TEA

A nutrição pode ser uma aliada importante no manejo de sintomas do TEA.

Alguns estudos indicam que dietas livres de glúten e caseína podem trazer benefícios em determinados casos, embora os resultados ainda sejam inconsistentes e devam ser avaliados individualmente.

A suplementação com ômega-3, vitaminas do complexo B, minerais e aminoácidos também pode contribuir para o equilíbrio do sistema nervoso central.

Manter uma microbiota intestinal saudável é igualmente essencial, já que o intestino tem relação direta com o funcionamento cerebral.

Por isso, profissionais da nutrição recomendam reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, especialmente em crianças com TEA.

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Referências

  • Shelton, J.F.; Geraghty, E.M.; Tancredi, D.J. et al. Neurodevelopmental disorders and prenatal residential proximity to agricultural pesticides: the CHARGE study. Environ Health Perspect. 122(10):1103–9, 2014.
  • Shaw, W. Elevated Urinary Glyphosate and Clostridia Metabolites With Altered Dopamine Metabolism in Triplets With Autistic Spectrum Disorder or Suspected Seizure Disorder: A Case Study. Integr Med (Encinitas). 16(1):50–57, 2017.
  • Von Ehrenstein, O.S.; Ling, C.; Cui, X. et al. Prenatal and infant exposure to ambient pesticides and autism spectrum disorder in children: population-based case-control study. BMJ. 364:l962, 2019.
  • Xu, Y. et al. Maternal exposure to pesticides and autism or attention-deficit/hyperactivity disorders in offspring: A meta-analysis. Chemosphere. 313:137459, 2023.
  • Barbosa, B.A. et al. Autismo: como amenizar os sintomas através da alimentação e contribuir no processo ensino-aprendizagem. Research, Society and Development. 10(6):e25510615704, 2021.
  • Mehra, A. et al. Gut microbiota and Autism Spectrum Disorder: From pathogenesis to potential therapeutic perspectives. J Tradit Complement Med. 13(2):135–149, 2023.
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Dra. Valéria Paschoal
Dra. Valéria Paschoal

Nutricionista., CEO da VP Nutrição Funcional, Diretora da Faculdade VP. Autora e dos livros da Coleção Nutrição Clínica Funcional publicados pela VP Editora. Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Nutricionista da CSA Brasil (Community Supported Agriculture – Comunidade que Sustenta a Agricultura).

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