Como o consumo de bebida alcoólica pode estar afetando seu cérebro sem que você perceba

Estudo mostra que a bebida pode prejudicar o cérebro e a memória, afetando a saúde mental. Por isso, repenso o consumo de bebida alcoólica,

Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) trouxe à tona um alerta importante: o consumo de bebida alcoólica, especialmente em excesso, pode causar lesões no cérebro e comprometer funções cognitivas como a memória.

A pesquisa, publicada na respeitada revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, reforça o que especialistas em saúde pública vêm dizendo há anos: o álcool, mesmo em quantidades consideradas moderadas, pode trazer sérios riscos à saúde.

A investigação foi realizada com base em dados de autópsias de 1.781 pessoas com idade média de 75 anos.

Os pesquisadores analisaram o tecido cerebral desses indivíduos e relacionaram os resultados aos hábitos de vida informados por familiares, especialmente em relação ao consumo de álcool ao longo da vida.

A conclusão foi clara: quanto maior o consumo de bebida alcoólica, maior o risco de desenvolver alterações cerebrais graves, incluindo a chamada arteriolosclerose hialina.

O que é a arteriolosclerose hialina?

Esse nome complicado se refere a uma condição que afeta pequenos vasos sanguíneos do cérebro.

Nela, as paredes desses vasos se tornam mais espessas e endurecidas, o que dificulta a passagem do sangue.

Com o tempo, isso pode comprometer a oxigenação adequada do cérebro e favorecer o surgimento de danos neurológicos.

Um dos maiores problemas causados por essa condição são os prejuízos à memória e à capacidade de raciocínio, algo que afeta principalmente idosos.

Segundo o Dr. Alberto Fernando Oliveira Justo, pesquisador da FMUSP e um dos autores do estudo, esse tipo de lesão está diretamente associado ao consumo excessivo de bebida alcoólica.

Ele destaca que os efeitos do álcool no cérebro são negativos e se acumulam ao longo do tempo, podendo causar consequências duradouras, mesmo muitos anos após o período de maior consumo.

Quantidade importa — e muito

A pesquisa dividiu os participantes em quatro grupos, de acordo com seus hábitos de consumo:

  • Pessoas que nunca beberam;
  • Bebedores moderados (até 7 doses por semana);
  • Bebedores excessivos (8 ou mais doses por semana);
  • Ex-bebedores excessivos.

Para fins de comparação, uma dose padrão equivale a 14 gramas de álcool — o que corresponde a cerca de 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado.

Os resultados chamaram atenção:

  • Bebedores excessivos (8 ou mais doses por semana) tiveram 133% mais risco de desenvolver lesões cerebrais do tipo arteriolosclerose hialina em comparação aos abstêmios – pessoas que não consomem bebida alcoólica;
  • Ex-bebedores excessivos tiveram 89% mais risco;
  • Mesmo os bebedores moderados apresentaram risco aumentado em 60%;
  • Enquanto 40% dos abstêmios tinham esse tipo de lesão, o número saltava para 50% entre ex-bebedores excessivos.

Além disso, os pesquisadores também observaram uma maior presença de “emaranhados da proteína tau” — um marcador biológico associado ao Alzheimer — entre os que consumiam álcool em excesso.

Não existe consumo seguro

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem sido categórica: não há um nível seguro para o consumo de bebida alcoólica.

Isso significa que qualquer quantidade pode, em algum grau, representar riscos à saúde física e mental.

O novo estudo da FMUSP reforça essa ideia, já que mesmo níveis considerados moderados já foram associados a alterações cerebrais.

As consequências mais graves aparecem quando o consumo se torna frequente ou descontrolado.

Além dos efeitos no cérebro, o uso excessivo de álcool pode levar a doenças como cirrose hepática, problemas gastrointestinais, alguns tipos de câncer, doenças cardíacas, ansiedade, depressão e outros transtornos psiquiátricos.

Consumo de bebida alcoólica: quando o hábito vira problema?

É comum que pessoas que bebem com frequência não percebam quando o consumo de bebida alcoólica começa a se tornar um risco real.

Muitos acreditam que “beber socialmente” não é preocupante, mas existem sinais de alerta que não devem ser ignorados:

  • Beber mais do que o planejado, ou com mais frequência;
  • Sentir necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito (tolerância);
  • Desejo intenso ou incontrolável de beber;
  • Deixar de cumprir compromissos por causa do álcool;
  • Problemas de saúde causados pela bebida;
  • Conflitos familiares ou sociais recorrentes;
  • Isolamento para beber sozinho;
  • Tentativas frustradas de parar ou reduzir o consumo;
  • Sintomas de abstinência ao ficar sem beber (tremores, ansiedade, irritabilidade).

Quando um ou mais desses sinais estão presentes, é essencial buscar ajuda médica e psicológica.

O alcoolismo é uma doença crônica e, como tal, requer acompanhamento profissional.

Consumo de bebida alcoólica: consciência e prevenção

Conforme destacou o Dr. Alberto Justo, compreender os efeitos do álcool no cérebro é fundamental para evitar danos a longo prazo.

Ele ressalta que a conscientização pública é essencial e que, quanto mais cedo as pessoas compreendem os riscos associados ao consumo de bebida alcoólica, mais chances existem de mudança de hábitos e prevenção de consequências graves.

É importante lembrar que as escolhas feitas hoje terão impacto direto na saúde futura.

Isso vale especialmente para o cérebro, um órgão sensível que depende do bom funcionamento do sistema circulatório para manter suas funções cognitivas em dia.

Repensar o relacionamento com o álcool

Repensar o consumo de bebida alcoólica não significa, necessariamente, se privar completamente, mas entender os próprios limites, reconhecer os riscos e fazer escolhas mais saudáveis.

No entanto, para quem tem histórico de consumo excessivo ou sintomas de dependência, a recomendação mais segura é a interrupção total, com acompanhamento especializado.

Se você ou alguém próximo apresenta sinais de que o álcool está afetando a saúde ou a vida pessoal, procurar ajuda é um passo essencial.

Existem diversas formas de tratamento, grupos de apoio e profissionais capacitados para auxiliar nesse processo.

A saúde cerebral é um bem precioso. Cuidar dela começa com escolhas conscientes — e o álcool, mesmo em pequenas quantidades, deve ser encarado com responsabilidade.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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