Jejum de 5 dias é realmente uma boa ideia? Estudo revela os impactos no corpo, mente e inflamação

Nos últimos anos, o jejum prolongado — especialmente protocolos como o jejum de 5 dias à base apenas de água — tem ganhado popularidade entre adeptos de estratégias naturais para perda de peso e bem-estar.

No entanto, será que esse tipo de jejum é realmente seguro e eficaz?

Um estudo publicado recentemente na revista científica PLOS ONE traz respostas importantes, mostrando que os efeitos vão muito além da balança e envolvem alterações metabólicas, hormonais, psicológicas e até inflamatórias.

O estudo foi conduzido por pesquisadores na Lituânia e analisou detalhadamente o que acontece com o corpo e a mente de mulheres que aderiram a um jejum hídrico de cinco dias, precedido por quatro semanas de preparação alimentar.

Os resultados chamam atenção: houve perda de peso, melhora no humor, mas também redução de massa muscular e aumento de marcadores inflamatórios — uma combinação que exige cautela e análise individualizada antes de aderir a esse tipo de prática.

O que motivou o estudo?

O jejum intermitente e o jejum prolongado têm sido associados a diversos benefícios metabólicos, incluindo a melhora da sensibilidade à insulina, maior eficiência na queima de gordura e até efeitos protetores sobre o cérebro.

Em muitos casos, esse tipo de prática tem sido proposto como uma estratégia preventiva para doenças como obesidade, resistência à insulina, doenças neurodegenerativas e cardiovasculares.

No entanto, ainda há lacunas importantes na compreensão dos efeitos do jejum prolongado sobre o corpo humano, especialmente em relação à preservação da massa magra, à resposta inflamatória e aos impactos psicológicos.

A nova pesquisa teve como objetivo justamente preencher parte dessa lacuna, avaliando não apenas parâmetros clínicos, mas também aspectos emocionais e traços de personalidade das participantes.

Como o estudo foi conduzido?

Participaram do estudo 42 mulheres saudáveis, com idades entre 40 e 60 anos, e índice de massa corporal (IMC) médio de 30,8 kg/m² — o que se enquadra na faixa de sobrepeso.

Todas estavam sem doenças crônicas, sem uso de medicamentos que alterassem o metabolismo e apresentavam peso estável.

Antes do jejum, houve uma fase preparatória de quatro semanas, em que as participantes foram orientadas a manter uma alimentação regular, com três refeições por dia e sem lanches intermediários.

Durante os cinco dias de jejum, elas consumiram apenas água e participaram de uma rotina estruturada que incluía caminhadas, exercícios leves, sessões educativas e cuidados supervisionados por equipe médica, como sauna e massagens.

Foram realizados exames de sangue antes e depois do jejum, além de testes psicológicos para medir características como inteligência emocional, impulsividade, níveis de estresse e humor.

O que acontece com o corpo durante o jejum de 5 dias apenas com água?

Durante os cinco dias em que o corpo não recebe nenhum alimento — apenas água — uma série de adaptações fisiológicas ocorre para garantir a sobrevivência.

Essa fase é marcada por um processo chamado mudança metabólica, no qual o organismo passa a usar a gordura como principal fonte de energia.

1. Redução dos níveis de glicose e insulina

Logo nos primeiros dias de jejum, os níveis de glicose no sangue começam a cair, acompanhados de uma queda nos níveis de insulina.

Como o corpo não recebe mais glicose pela alimentação, ele é obrigado a buscar energia em outras fontes, especialmente nos estoques de gordura.

Essa redução da insulina favorece a queima de gordura, o que pode ser útil para pessoas com resistência insulínica ou em risco de diabetes tipo 2.

No entanto, a queda acentuada desses marcadores deve ser monitorada em casos específicos, como em pessoas com hipoglicemia recorrente.

2. Produção de corpos cetônicos

Ao entrar em déficit energético, o fígado começa a converter ácidos graxos em corpos cetônicos, moléculas que servem de combustível para o cérebro e outros tecidos.

Esse estado metabólico, chamado de cetose, é o mesmo observado em dietas cetogênicas e está relacionado ao aumento da clareza mental e melhora do humor relatados por muitos praticantes de jejum.

Durante o estudo, foi observada uma elevação de cinco vezes nos níveis de corpos cetônicos ao final dos cinco dias, o que confirma a ativação intensa da via de cetose.

3. Redução de leptina e manutenção da adiponectina

A leptina, hormônio produzido pelas células de gordura que sinaliza saciedade ao cérebro, caiu significativamente no estudo.

Essa queda pode refletir a redução da gordura corporal, mas também pode afetar a sensação de saciedade após o jejum, gerando riscos de episódios de compulsão alimentar quando a alimentação for retomada.

Já a adiponectina, importante para a regulação da glicose e do metabolismo lipídico, permaneceu estável, contrariando a expectativa de aumento.

Essa estabilidade pode indicar que o corpo prioriza outras vias de regulação energética em jejum prolongado.

4. Perda de peso: gordura vs. massa magra

Um dos dados mais relevantes do estudo foi a perda de peso média de 4,25 kg em cinco dias. No entanto, ao analisar a composição corporal, verificou-se que mais massa magra (músculos) foi perdida do que gordura — uma diferença que preocupa.

Enquanto a gordura corporal caiu cerca de 1 kg, a massa magra caiu mais de 3 kg, o que pode comprometer o metabolismo, a força muscular e a saúde a longo prazo.

Isso reforça a importância de estratégias de preservação muscular, como exercícios de resistência e, em casos específicos, suplementação proteica guiada por profissionais de saúde.

5. Alterações nos marcadores inflamatórios

Um dos achados mais surpreendentes foi o aumento de dois marcadores inflamatórios: IL-6 e TNF-alfa, que subiram respectivamente 52,2% e 25,9%. Isso vai na contramão da ideia de que o jejum sempre reduz a inflamação.

Esse aumento pode ser uma resposta aguda ao estresse fisiológico causado pelo jejum prolongado e pela perda muscular.

Embora temporário, ele chama atenção para os limites do jejum e a necessidade de acompanhamento médico, especialmente em pessoas com doenças inflamatórias ou autoimunes.

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Os efeitos do jejum de 5 dias na mente e emoções

Além das mudanças físicas, o estudo revelou alterações interessantes no estado emocional dos participantes. Após os cinco dias de jejum, as mulheres relataram um aumento no vigor e uma redução na tensão, indicando uma melhora do humor geral.

Essa melhora pode estar relacionada à produção de corpos cetônicos, que, como mencionado, têm efeito positivo no cérebro, favorecendo a clareza mental e o bem-estar.

No entanto, o jejum também exige um preparo psicológico adequado, já que lidar com a fome e a privação pode ser um desafio emocional significativo.

Traços emocionais que influenciam os resultados

Um dos pontos mais inovadores do estudo foi a análise da relação entre características psicológicas e os resultados do jejum.

Participantes com maior inteligência emocional e menor impulsividade perderam mais gordura corporal, enquanto aquelas com níveis maiores de neuroticismo e tensão apresentaram maior perda de massa magra.

Esses dados sugerem que o sucesso e a segurança do jejum prolongado podem depender não só do corpo, mas também da saúde emocional e da capacidade de lidar com o estresse.

Importância do preparo psicológico

Por isso, antes de iniciar um jejum prolongado, é fundamental que a pessoa avalie seu estado emocional e tenha suporte adequado.

Sem isso, o jejum pode causar efeitos negativos como ansiedade, irritabilidade e até prejudicar a composição corporal ao favorecer a perda muscular.

Então, jejum de 5 dias vale a pena?

O jejum de cinco dias traz mudanças metabólicas importantes, como a redução de peso, queda nos níveis de glicose, insulina e leptina, além do aumento da queima de gordura por meio dos corpos cetônicos.

Também pode melhorar o humor e a clareza mental, mostrando potencial para benefícios físicos e psicológicos.

Por outro lado, o estudo destaca riscos relevantes: o aumento da inflamação, a perda significativa de massa magra — mais que a gordura — e a necessidade de um preparo emocional sólido para enfrentar o desafio.

A perda muscular, em especial, pode comprometer a saúde a longo prazo se o jejum for feito de forma inadequada.

Além disso, as respostas ao jejum variam conforme características emocionais e psicológicas, o que reforça a importância de acompanhamento individualizado.

O jejum prolongado não é uma estratégia para todos e deve ser conduzido com cautela, preferencialmente sob supervisão médica e nutricional.

Portanto, antes de considerar o jejum de cinco dias, avalie seu estado físico e emocional, procure orientação profissional e entenda que, apesar dos benefícios, há riscos que não podem ser ignorados.

O equilíbrio e o conhecimento são essenciais para decidir se essa prática é segura e adequada para você.

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Elizandra Civalsci Costa
Elizandra Civalsci Costa

Farmacêutica (CRF MT n° 3490) pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Farmácia Hospitalar e Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner. - Curitiba PR. Possui curso em Revisão de Conteúdo para Web pela Rock Content University e Fact Checker pela poynter.org. Contato (65) 99813-4203

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