Pai luta contra o câncer após perder três filhos para a síndrome de Li-Fraumeni

A síndrome é hereditária e enfraquece as células e aumenta a probabilidade de diagnóstico de câncer

O economista Régis Feitosa Mota, de 52 anos, está lutando contra o câncer, depois de perder seus três filhos para a síndrome de Li-Fraumeni. A doença é hereditária e responsável por uma mutação genética que aumenta significativamente o risco de câncer. Segundo Régis, nenhum parente próximo nem as mães de seus filhos têm a síndrome. “Não sabemos a origem dessa minha alteração genética. O meu pai atualmente tem 85 anos e a minha mãe tem 78 e são saudáveis”, pontua o economista, que em menos de cinco anos lidou com a morte de todos os filhos. Saiba mais, aqui no SaúdeLAB.

O câncer na família e a descoberta da síndrome de Li-Fraumeni

O primeiro diagnóstico da família de Fortaleza, no Ceará, foi em 2009. Porém, antes desse dia, todos eram absolutamente saudáveis . Descobriu-se a leucemia linfoide aguda na filha mais velha de Sérgio, o câncer mais comum entre crianças. Anna Carolina estava com 12 anos quando começou o tratamento com radioterapia e quimioterapia. Três anos depois, o câncer foi considerado em remissão.

Em 2016, foi a vez de Sérgio descobrir que estava com leucemia linfoide crônica, quase ao mesmo tempo em que seu filho Pedro, aos 17 anos, recebeu o diagnóstico de osteossarcoma, o câncer nos ossos.

Três casos na mesma família não podia ser por acaso. Por isso, ele e os três filhos, Anna Carolina e Pedro (do primeiro casamento) e Beatriz, do segundo relacionamento, foram ao geneticista em São Paulo. Assim Pedro conheceu a síndrome de Li-Fraumeni, que acometeu os quatro membros da família. Portanto, o risco aumentado para quase todos os tipos de câncer que acabaram desenvolvendo foi causada pela mutação genética.

Em 2018, a filha caçula do engenheiro, Beatriz, morreu devido a uma leucemia linfoide aguda. Logo em seguida, em 2020, seu filho Pedro, depois de tratar outros tumores, morreu em decorrência de um câncer no cérebro.

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No dia 19 de novembro de 2022, Anna Carolina morreu em decorrência de um tumor no cérebro, como seu irmão.  “Em quatro anos e meio, perdi todos os meus filhos”, desabafa o engenheiro.

Além disso, em 2021, depois de sintomas persistentes como febre, inchaço no pescoço e fraqueza, ele descobriu ter um linfoma não Hodgkin, câncer no sistema linfático, que tratou com quimioterapia. ‘Os meus filhos diziam que eu fui tão vítima quanto eles’, finaliza Régis Mota.

síndrome de Li-Fraumeni
Os filhos do economista (Foto: Arquivo Pessoal)

O que é síndrome de Li-Fraumeni 

A síndrome de Li-Fraumeni é causada pela alteração no gene TP53 de caráter hereditário, que enfraquece a habilidade das células de controlar diversos sistemas vitais. O resultado dessa perda do controle de mecanismos críticos das células aumenta a probabilidade de diagnóstico de câncer.

Portanto, portadores da síndrome de Li-Fraumeni têm cerca de 50% de risco de desenvolver câncer antes dos 30 anos, e 90% deles têm câncer antes dos 70 anos. Quando a síndrome se manifesta na infância, os pacientes são mais propensos ao surgimento de mais de um tipo de câncer durante a vida.

Decerto, as pessoas portadoras da síndrome de Li-Fraumeni já nascem com uma cópia deste gene corrompido e pode ser tanto a cópia materna quanto paterna, em cada célula do corpo e têm um risco maior de desenvolver a doença em qualquer fase da vida.

Entretanto, não existe a certeza de que um portador de síndrome de Li-Fraumeni vá ter câncer na vida, em que órgão ou em que idade. Oo fenômeno de perda da cópia normal é imprevisível e, em certos portadores, pode nunca ocorrer.

A síndrome de Li-Fraumeni é rara e autossômica dominante, ou seja, o pai ou a mãe podem transmiti-la para os filhos. Cada descendente tem 50% de risco de ser portador da mesma síndrome, e a presença de uma cópia mutada do gene já é suficiente para aumentar a probabilidade de desenvolvimento de um câncer.

Os cânceres mais comumente associados à síndrome de Li-Fraumeni são:

  • Sarcomas ósseos e de tecidos moles;
  • Câncer de mama genético;
  • Câncer de tórax;
  • Tumores cerebrais;
  • Câncer adrenocortical;
  • Leucemia genética;
  • Linfoma;
  • Glioblastoma;
  • Rabdomiossarcoma.

Tratamento

Não há tratamento padrão ou cura para a síndrome. Com algumas exceções, os cânceres são tratados da mesma forma que os cânceres em outros pacientes. Há algumas diferenças, como cuidados especiais com o uso de exames e tratamentos que envolvam radiação.

Radiação/radioterapia x síndrome de Li-Fraumeni

Pesquisas indicam que os indivíduos com Li-Fraumeni parecem ter um risco elevado de câncer induzido por radiação. Portanto, o uso de radioterapia deve ser abordado com cautela, bem como a tomografia computadorizada (TC), mamografia e outras técnicas de diagnóstico envolvendo radiação ionizante devem ser limitadas. A priori, a radioterapia pode ser considerada apenas em situações especiais, de acordo com a análise do médico.

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