Anvisa aprova insulina semanal: o que isso realmente significa para os diabéticos?

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou recentemente a primeira insulina semanal do mundo, a Awiqli, desenvolvida pela farmacêutica Novo Nordisk.

O medicamento, que utiliza a molécula icodeca, promete reduzir a necessidade de aplicações diárias de insulina, oferecendo uma alternativa para pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2.

No entanto, apesar do potencial inovador, a chegada dessa nova opção ao mercado brasileiro ainda enfrenta incertezas, e questões sobre custo, acesso e eficácia a longo prazo permanecem em aberto.

A aprovação foi baseada em resultados do programa de ensaios clínicos Onwards, que demonstrou que a insulina semanal é capaz de manter o controle glicêmico comparável ao das insulinas basais diárias.

No entanto, especialistas alertam que, embora a novidade traga benefícios em termos de praticidade, é importante analisar com cautela os impactos reais desse tratamento no dia a dia dos pacientes.

O que a insulina semanal oferece?

A Awiqli é uma insulina basal de ação prolongada, projetada para manter os níveis de glicose estáveis ao longo de uma semana com apenas uma aplicação.

Para pacientes que dependem de injeções diárias, a redução no número de aplicações pode significar uma melhora na qualidade de vida, com menos interrupções na rotina e menor desconforto relacionado às injeções frequentes.

Os estudos clínicos mostraram que a icodeca é eficaz em diferentes perfis de pacientes, incluindo aqueles com disfunção renal, e não apresentou aumento significativo de eventos adversos graves, como hipoglicemia.

No entanto, é importante ressaltar que a segurança e a eficácia foram avaliadas em um contexto controlado, e os resultados podem variar na prática clínica do dia a dia.

Desafios e incógnitas

Apesar dos benefícios aparentes, a insulina semanal não chega ao mercado sem desafios. Um dos principais pontos de preocupação é o custo.

Insulinas inovadoras tendem a ser mais caras que as opções tradicionais, e não há garantias de que a Awiqli será acessível para a maioria dos pacientes no Brasil, onde o acesso a medicamentos de alto custo já é um problema crônico.

Além disso, a falta de uma data prevista para o lançamento no país deixa muitas dúvidas sobre quando e como a medicação estará disponível.

A Novo Nordisk reforça que o tratamento deve ser sempre prescrito e acompanhado por um médico, mas a infraestrutura do sistema de saúde brasileiro pode não estar preparada para uma rápida incorporação dessa nova tecnologia.

Outro ponto a ser considerado é a adaptação dos pacientes à nova rotina de aplicações. Embora a redução no número de injeções seja vantajosa, a transição de um tratamento diário para um semanal pode exigir ajustes no manejo da doença, incluindo monitoramento mais frequente da glicemia e possíveis mudanças na dosagem.

Aprovações internacionais e contexto global

A insulina semanal já foi aprovada em países como Alemanha, Japão, Canadá e Austrália, além de ter recebido o aval da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

Nos Estados Unidos, o pedido de aprovação ainda está em análise pelo FDA (Food and Drugs Administration). Essas aprovações reforçam o potencial da medicação, mas também destacam a necessidade de cautela, já que cada país tem suas particularidades em termos de regulamentação e acesso a medicamentos.

Na China, por exemplo, a icodeca foi aprovada apenas para o tratamento de diabetes tipo 2, o que sugere que seu uso pode ser mais restrito em determinados contextos.

No Brasil, onde o diabetes afeta mais de 16 milhões de pessoas, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a incorporação de uma nova insulina deve ser acompanhada de políticas públicas que garantam o acesso equitativo.

Praticidade versus realidade

A ideia de uma insulina semanal é, sem dúvida, atraente. Reduzir o número de aplicações pode melhorar a adesão ao tratamento, especialmente entre pacientes que têm dificuldade em seguir rotinas rigorosas.

No entanto, é importante lembrar que o controle do diabetes vai além da medicação. Uma alimentação balanceada, a prática regular de exercícios físicos e o acompanhamento médico continuam sendo pilares fundamentais para o manejo eficaz da doença.

Além disso, a Awiqli não é uma solução mágica. Pacientes e profissionais de saúde devem estar cientes de que a transição para uma insulina de ação prolongada pode exigir ajustes e monitoramento cuidadoso. A eficácia a longo prazo e os possíveis efeitos colaterais ainda precisam ser melhor compreendidos na prática clínica.

A aprovação da insulina semanal no Brasil é, sem dúvida, um avanço importante no tratamento do diabetes. No entanto, é preciso encarar a novidade com cautela e realismo. Enquanto a praticidade de uma aplicação semanal é um benefício claro, questões como custo, acesso e adaptação dos pacientes ainda precisam ser resolvidas.

A chegada da Awiqli ao mercado brasileiro pode demorar, e sua incorporação ao sistema de saúde não será simples.

Enquanto isso, pacientes e profissionais de saúde devem continuar focando nas estratégias já consolidadas para o controle do diabetes, sempre com o acompanhamento médico adequado. A ciência avança, mas os desafios permanecem.

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Elizandra Civalsci Costa
Elizandra Civalsci Costa

Farmacêutica (CRF MT n° 3490) pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Farmácia Hospitalar e Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner. - Curitiba PR. Possui curso em Revisão de Conteúdo para Web pela Rock Content University e Fact Checker pela poynter.org. Contato (65) 99813-4203

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