Fisioterapeuta: o estalo “milagroso”do ajuste lombar pode enganar

Nos últimos anos, o ajuste lombar, uma das técnicas mais conhecidas da quiropraxia, se tornou sinônimo de alívio imediato para quem convive com dor nas costas. Basta um vídeo viral para reforçar a sensação de que aquele “estalo” é o que devolve a mobilidade e elimina o incômodo.

Mas a verdade é que a coluna não funciona assim. E, como fisioterapeuta há quase duas décadas, posso afirmar: nem todo estalo é sinal de melhora, e nem todo corpo está preparado para essa manipulação.

A região lombar, localizada entre o tórax e o quadril, suporta o peso do corpo, estabiliza movimentos e protege estruturas nervosas delicadas.

É uma área que exige equilíbrio entre força e flexibilidade. Por isso, qualquer intervenção manual precisa respeitar os limites anatômicos de cada pessoa.

Os ajustes manuais, quando bem indicados, podem sim trazer alívio e restaurar a mobilidade. Porém, quando aplicados sem uma avaliação precisa, podem causar desde dores musculares até lesões em discos e articulações.

O que acontece durante o ajuste lombar

Durante o chamado thrust, o impulso rápido e controlado que caracteriza a técnica, o profissional busca corrigir pequenas disfunções de movimento nas vértebras, conhecidas como subluxações.

Esse movimento libera uma pequena quantidade de gás dentro da articulação, gerando o famoso estalo.

O que muitos não sabem é que esse som não é garantia de sucesso terapêutico, e sim um fenômeno físico normal.

O que realmente importa é o ganho de mobilidade e o alívio de sintomas após o procedimento.

Quando o ajuste pode ser contraindicado

Existem condições que tornam o ajuste lombar arriscado.

Pacientes com osteoporose, hérnia de disco, estenose espinhal, inflamações ou tumores ósseos devem evitar a manipulação direta.

Em alguns casos, o impacto pode gerar microfraturas, compressões nervosas ou piora do quadro.

Por isso, a avaliação clínica é indispensável.

Antes de pensar em ajustar, é preciso entender a causa da dor.

Nem toda dor lombar vem de desalinhamento, muitas têm origem muscular, postural ou até emocional.

A importância de olhar além do “estalo”

Estudos recentes apontam que as complicações graves da quiropraxia são raras, mas possíveis.

Revisões científicas, como a publicada no Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, reforçam que o sucesso do tratamento depende mais da escolha do paciente certo e da técnica adequada do que da manipulação em si.

O toque terapêutico é poderoso, mas deve ser usado com critério.

O profissional precisa conhecer a biomecânica da coluna, respeitar o limiar de dor e adaptar a abordagem para cada caso.

Reabilitação é mais do que um ajuste

A melhora duradoura das dores lombares passa por reeducação postural, fortalecimento muscular e retomada gradual do movimento.

É o conjunto desses fatores que devolve estabilidade e autonomia, não apenas uma manobra pontual.

Em muitos casos, a dor que leva uma pessoa ao consultório é o resultado de meses de sobrecarga, estresse e sedentarismo, e o ajuste isolado não corrige esse contexto.

Como costumo dizer às minhas pacientes: o corpo fala. E a coluna é uma das primeiras a pedir ajuda quando o equilíbrio é rompido.

Entender o que está por trás da dor é o primeiro passo para tratá-la com segurança e consciência.

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Dra. Mariana Milazzotto
Fisioterapeuta, mestre em Ciências Médicas e especialista em reabilitação funcional

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Fisio Mariana Milazzotto
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