Acorda no meio da noite com pensamentos ruins? A ciência explica o que está por trás disso

Já acordou no meio da noite, com uma memória desagradável rondando sua mente, e percebeu que não consegue mais se concentrar ou voltar a dormir?

Isso pode ser um sinal de que o seu cérebro está tendo dificuldades para controlar essas memórias indesejadas. A falta de sono, especialmente o sono REM, pode prejudicar a nossa capacidade de “apagar” essas lembranças incômodas, afetando diretamente nossa saúde mental.

Um estudo recente revela como a privação de sono interfere no funcionamento do cérebro, destacando a importância do sono REM (Movimento Rápido dos Olhos) nesse processo.

O Efeito da Privação de Sono nas Memórias

Todos nós já passamos por situações desconfortáveis que ficam na nossa cabeça, repetindo-se sem querer.

Essas memórias, que são chamadas de memórias intrusivas, podem afetar a nossa saúde emocional, principalmente quando estão relacionadas com experiências de trauma, ansiedade ou depressão. Controlar e suprimir essas memórias é essencial para reduzir seu impacto e ajudar a regular as emoções.

Uma das formas que o cérebro usa para suprimir essas memórias é por meio de uma parte do cérebro chamada córtex pré-frontal dorsolateral, que atua inibindo a ativação de outras áreas, como o hipocampo, responsável pelo armazenamento de memórias.

No entanto, a capacidade de controlar essas memórias pode ser afetada quando não dormimos bem.

O sono, especialmente o sono REM, tem um papel crucial em restaurar essa capacidade de controle da memória, mas como exatamente isso acontece ainda não é totalmente compreendido. Novos estudos buscam esclarecer como a falta de sono afeta esse processo e o impacto disso no bem-estar emocional.

O Estudo: Como a Privação de Sono Afeta o Controle das Memórias

Um estudo realizado por pesquisadores e publicado na Psychological and Cognitive Sciences investigou como a falta de sono prejudica a capacidade do cérebro de suprimir memórias indesejadas.

Participaram do estudo 87 adultos saudáveis, com idades entre 18 e 30 anos. Todos os participantes eram falantes nativos de inglês, destros e não tinham histórico de distúrbios neurológicos, psiquiátricos ou de sono.

Os participantes foram divididos em dois grupos: um grupo de privação de sono, que ficou acordado durante a noite, e um grupo que teve uma noite de sono tranquila de 8 horas. Ambos os grupos foram monitorados em suas atividades cerebrais e cognitivas durante os testes.

Os pesquisadores usaram uma técnica chamada ressonância magnética funcional para observar a atividade do cérebro enquanto os participantes realizavam tarefas relacionadas à memória.

Entre essas tarefas, estava a “Tarefa de Pensar/Não Pensar”, onde os participantes tentavam lembrar ou suprimir memórias associadas a imagens.

Resultados: O Sono REM e a Supressão das Memórias

Os resultados mostraram que a privação de sono prejudica significativamente a capacidade do cérebro de controlar memórias intrusivas. Durante o teste, os participantes que não haviam dormido bem demonstraram uma redução mais lenta na taxa de memórias intrusivas, em comparação com aqueles que dormiram normalmente.

Curiosamente, o tipo de memória (se emocionalmente negativa ou não) não influenciou o resultado. Mesmo assim, os participantes privados de sono demoraram mais para alcançar um nível adequado de controle das memórias, refletindo um processo mais lento e dificultado de adaptação da memória.

Isso indica que, sem o descanso adequado, o cérebro tem mais dificuldade em filtrar memórias indesejadas, o que pode aumentar o risco de reviver essas memórias de forma repetitiva.

O sono REM, que ocorre principalmente durante as fases mais profundas do sono, é essencial para restaurar a capacidade do cérebro de bloquear ou suprimir essas memórias indesejadas.

O Impacto da Privação de Sono na Saúde Mental

A privação de sono tem um efeito muito mais profundo do que apenas a sensação de cansaço. Ela interfere diretamente na forma como o cérebro lida com memórias e emoções.

Quando não dormimos o suficiente, especialmente sem as fases de sono REM, nosso cérebro perde a capacidade de processar adequadamente experiências difíceis ou traumáticas, o que pode intensificar problemas como ansiedade, estresse e depressão.

A falta de sono também pode prejudicar a nossa memória de curto prazo e nossa capacidade de concentração, dificultando a regulação emocional e a tomada de decisões.

A longo prazo, a interrupção desse processo de supressão de memórias pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos mais graves, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

O Papel do Sono REM na Regulação Emocional

O sono REM desempenha uma função vital no restabelecimento do equilíbrio emocional. Durante essa fase do sono, o cérebro processa e consolida informações emocionais, ajudando a “digerir” experiências difíceis.

Esse processo é fundamental para a saúde mental, pois permite que as emoções sejam vivenciadas e depois armazenadas de maneira saudável, sem a sobrecarga de memórias traumáticas que possam surgir repetidamente.

Pesquisas sugerem que uma boa noite de sono, especialmente com sono REM de qualidade, pode fortalecer a capacidade do cérebro de lidar com memórias desagradáveis e reduzir a probabilidade de essas memórias se tornarem intrusivas.

Este estudo reforça a importância de uma boa noite de sono para a nossa saúde mental e emocional.

Para aqueles que enfrentam problemas como ansiedade, estresse ou dificuldades emocionais, garantir um sono de qualidade, com suficiente tempo de sono REM, pode ser uma das chaves para melhorar o controle sobre as memórias e, assim, reduzir o impacto de experiências desagradáveis.

Portanto, é essencial dar atenção ao sono e estabelecer rotinas que favoreçam um descanso adequado. Evitar a privação de sono e priorizar noites de descanso completas são atitudes simples, mas poderosas, que podem contribuir para a saúde mental e o bem-estar geral.

Lembre-se: uma mente descansada é uma mente mais forte e mais capaz de lidar com os desafios da vida cotidiana.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

Artigos: 145
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